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Ricardo Dinis Oliveira: "Projectar o futuro exige primar pela exigência da formação"

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O Olhar de...

- Farmacêutico e investigador português

- Investigador e Professor Auxiliar do Instituto de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

- Vencedor do prémio “Young Scientist Award 2008”, atribuído pelo comité científico da International Association of Forensic Toxicologists

- Antigo estudante da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, onde completou a Licenciatura em Ciências Farmacêuticas e o Doutoramento em Toxicologia (2007)

 

- Como é que teve origem, e se tem vindo a desenvolver a sua ligação à Universidade do Porto? Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto investigador da U.Porto?

 

Tudo começou em 1997 quando iniciei a frequência da Licenciatura em Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Como acontece com a generalidade dos jovens, vindos do ensino secundário de fora de uma grande cidade, a ansiedade era muita. Os anos foram passando e o conhecimento sedimentando, muito alicerçado no respeito por aqueles que considerei mestres na minha formação. Mas até aqui nada de diferente…

Às vezes na vida existem de facto momentos certos. Numa aula de Ecotoxicologia o Professor Doutor Félix Carvalho referiu que estava aberto a receber um aluno que desejasse integrar um dos projectos de investigação a decorrer sob a sua orientação. No final do dia, impulsionado pelo desejo de fazer algo de diferente e estimulado pela minha namorada e actual esposa, fui ao seu gabinete, sempre com humildade e muito respeito e ouvi… Percebi que teria que organizar a minha vida de forma diferente, de forma a conseguir tempo para estar com os amigos, estudar para as diferentes cadeiras, mas disse que tentaria fazer o meu melhor e aproveitaria as manhãs e tardes livres para trabalhar. E se até aqui nada era diferente do normal, assim começou o meu conhecimento e experiência a ser diferenciado. Longe estava eu de imaginar que o Prof. Félix viria a ser meu orientador de Tese de Doutoramento e depois de Pós-Doutoramento. Longe estava eu de perceber o quanto o orientador e actual amigo viria a ser decisivo no meu percurso profissional e como todos os amigos no panorama pessoal também. Relembro o meu primeiro artigo científico, como um marco que ambicionava. Relembro também o Prof. Doutor José Alberto Duarte, que num contacto formal para resolver um problema relacionado com a análise histológica, se tornou parte integrante dos meus trabalhos e sobretudo parte integrante daquele grupo de pessoas que contribuiu para a minha formação a todos os níveis, e por isso é mais um momento que recordo como investigador.

Depois percebi que o doutoramento podia ser, não um mero cumprimento de um projecto, mas que com ele podia tentar ajudar aqueles que de uma ou outra forma necessitassem das competências que adquiri na área da Toxicologia. Continuava sempre muito longe de imaginar que o meu esforço ia culminar em 2 patentes internacionais, tendo por base terapêuticas a serem utilizadas em intoxicações. Defendi a tese e relembro com orgulho o dia, não só por ter sido um sucesso pessoal, mas porque os meus amigos e familiares estavam presentes. E agora…O futuro?

A convite da Professora Doutora Teresa Magalhães ingressei no seu grupo de investigação e de docentes da Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Passei a acumular a área da Toxicologia Clínica e Forense nas minhas actividades de investigador, que teve um momento alto na atribuição do prémio “Young Scientist Award 2008”, pelo Comité Científico da International Association of Forensic Toxicologists no “46th Meeting of the International Association of Forensic Toxicologists”.A Prof. Teresa Magalhães é mais um dos pontos-chave no meu percurso como investigador, que abriu as portas e possibilitou com dinamismo e interesse profundo pela investigação, que aqueles que com ela trabalhassem tivessem as condiçõespara produzir ciência com rigor e qualidade.

Em todos os momentos na vida existe alguma oportunidade, é preciso agarrá-la e fazer por merecer a confiança. Agora, na qualidade deorientador dealunos de mestrado e doutoramento não creio que exista melhor prova de gratidão por aqueles queforam e são o pilar da minha formação científica, de que usá-los como exemplo.

 

- Qual a importância da U.Porto no seu percurso profissional e de que modo tem ido de encontro às suas expectativas?

 

No início de tudo, em 1997, a U.Porto foi prioridade por uma mera questão de proximidade. Hoje, pertencer à U.Porto é motivo para falar à “boca cheia”. É de facto um orgulho saber que a U.Porto está entre as universidades mais conceituadas do mundo, pois tal resulta do trabalho desenvolvido por cada um dos seus investigadores e docentes, onde me incluo. Nos últimos anos a U.Porto deu um salto qualitativo muito grande. Houve empenho e interesse em abrir as portas aos estudantes estrangeiros, houve abertura aos estudantes do secundário com a Universidade Júnior e a excelente investigação que por cá se faz tem merecido o reconhecimento e a afirmação crescente da U.Porto como uma universidade de referência nacional e internacional. De louvar o estímulo da U.Porto relativamente ao registo de patentes resultantes desta investigação e ao empreendedorismo subjacente, quer de forma directa quer através do estabelecimento de ligações com o meio empresarial. A U.PORTO exibe hoje de um ensino de qualidade, que prima pela excelência. Gosto do ambiente académico que começa desde os tempos de caloiro e da liberdade para nos fazer crescer. É uma honra e um privilégio poder trabalhar nesta Universidade.

 

- Como avalia o papel desempenhado pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país) e de que forma ele se poderá projectar para o futuro, com especial enfoque no campo da investigação científica?

 

A Universidade do Porto oferece já um vasto conjunto de cursos de especialização e de estudos avançados leccionados nas diferentes unidades orgânicas, cobrindo as necessidades de mão-de-obra especializada de Portugal como região. Estes cursos são o alavancar de uma futura investigação de qualidade, que encontra continuidade assegurada pelos seus antigos alunos. A U.PORTO é hoje a maior instituição de investigação científica Portuguesa acolhendo grupos de investigação, desenvolvimento e inovação (I&D+i) das diversas áreas do saber. A organização em centros de investigação traz obviamente economia de recursos com melhor produção científica. A U.PORTO deve continuar a afirmar-se como uma universidade de investigação, uma universidade em que docentes e estudantes estão envolvidos no processo de criação de saber e de aprendizagem contínua.

Em resultado da crescente qualificação académica e do aumento considerável do financiamento de infra-estruturas, equipamentos e bolsas de investigação através de programas de âmbito nacional ou europeu, as actividades de I&D+i da U.Porto têm registado um grande incremento qualitativo e quantitativo.

É projecção e envolvência na comunidade, a Universidade Júnior, como um programa de cursos de Verão que tem como principal finalidade a promoção do gosto pelo conhecimento e o despertar de potencialidades entre os jovens dos 10 aos 18 anos. Existe também o conceito social desta iniciativa, pois ninguém que foi estudante, se esquece das longas férias de Verão, em que nos víamos e desejávamos para encontrar entretenimento, com risco inerente de comportamentos menos lícitos e preocupações para os pais.

O programa de iniciação à investigação (IJUP) é uma outra iniciativa que gostaria de destacar pela importância que tem em fomentar o envolvimento dos estudantes da U.Porto em actividades de I&D o mais precocemente possível no seu percurso de formação universitária. O IJUP é na verdade a forma de projectar o futuro com qualidade e mais uma vez tem também um contributo social.

Todas estas iniciativas são a meu ver, a responsabilização da U.Porto enquanto unidade produtora de ciência. Investir forte na dinamização da área da educação contínua enquanto dimensão fundamental da sua relação com o exterior é produzir investigadores de renome. Projectar o futuro exige continuar a primar pela exigência e seriedade da formação. O facilitismo não fará bons investigadores o que em última estância hipotecará o que de melhor se fez na U.Porto nos últimos anos. Por exemplo, não se deverá banalizar os doutoramentos, com a avalanche de programas doutorais que a U.Porto oferece. Devemos continuar de ser capazes de atribuir ao doutoramento um carácter nobre e não apenas algo como mais um mestrado.

 

- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional? Como prevê o papel de uma Universidade do Porto daqui a 100 anos?

 

A qualidade que tanto elogiei fica agora hipotecada se medidas que visam a confluência de interesses não forem tomadas. Iniciativas, como os Workshops da U.Porto, que nos levem a conhecer e interagir uns aos outros são necessárias. Não descurar o interesse das empresas pois estas podem motivar investigações frutíferas que respondam às necessidades de mercado. Criar disciplinas transversais a toda a Universidade em benefício dos alunos e dos próprios docentes que na U.Porto leccionam e investigam, deverá ser uma ambição constante. Tudo isto poderá ser possível se o isolamento de algumas faculdades for minimizado com a criação de Pólos ou Campus Universitários. Que as minhas palavras sejam entendidas como construtivas. Constato que ainda existem muitas quezílias e pseudo-rivalidades entre investigadores/docentes não só inter mas também intra faculdades. Os docentes não podem acomodar-se à posição e cada vez mais têm de ter a consciência de devem exigir do aluno somente aquilo que foram capazes de transmitir. Acho que a vaga de sangue novo que tem invadido a U.Porto pode constituir uma mais-valia no sentido de permitir a troca desinteressada de ideias, experiências e conhecimento. Não aprecio o desaproveitamento de recursos que ficam patentes com a dispersão de equipamentos e capacidades e dos “postos” vitalícios que dificultam a modernização. A U.PORTO vive ainda hoje muito por secções o que acarreta também sobreposição de áreas de investigação e formação.

É pena não ser possível responder com firmeza sobre aquilo que será a U.Porto daqui a 100 anos, e com muito mais pena minha também nunca estarei cá para comprovar as minhas previsões. Mas imagino que existirão menos faculdades. Por exemplo, voltaremos a uma modalidade similar às Escolas Régias de Saúde, integrando vários cursos (ou mesmo todos) das Ciências da Saúde numa única instituição. Aqui estaria centrado todo o conhecimento, permitindo a troca de experiências com uma nítida melhoria na produção científica. Se calhar o Português deixará de ser a língua oficial e passaremos a adoptar a língua dominante da altura, o que só demonstra capacidade de modernização. Talvez o número de trabalhadores diminua, sendo muitas das tarefas repetitivas a passar a ser realizadas por robots. Estou a imaginar que em um ou dois dias se consiga produzir resultados que agora demoram meses a conseguir. Em alternativa, a U.Porto poderá não mudará assim tanto, apenas seguindo em harmonia com a evolução das grandes universidades do mundo. Uma certeza persistirá, que é orgulho por trabalhar num local onde se produz e transmite conhecimento de elevada qualidade.

 

- Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do Porto (formato livre)

 

No ano em que se comemoram os 100 anos da República Portuguesa a U.Porto pode estar ciente que cumpre com a comunidade regional, nacional e internacional. Aproximou-se das necessidades empresariais, das necessidades cívicas, educou os seus estudantes e direccionou a investigação para os problemas prementes. Paralelamente, o Porto, como cidade, ganhou notoriedade. Cem anos são uma manifestação de coesão e dinamismo. Cabe àqueles que farão a história dos próximos 100 anos fazer justiça à memória e aos firmes alicerces daqueles que os precederam.

 
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