O Olhar de...
- Médico e investigador português
- Professor catedrático da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP)
- Coordenador Nacional da Infecção VIH/sida,
- Antigo Estudante da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), com Licenciatura (1981) e Doutoramento (1991) em Medicina
Como é que teve origem e se tem vindo a desenvolver a sua ligação à Universidade do Porto? Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto estudante/professor/investigador da U.Porto?
A geografia e os afectos fizeram o seu trabalho. Escolhi pouco a universidade por ser esta mas ela adoptou-me e as coisas, os lugares e as pessoas foram fazendo o resto. Rendi-me!
Qual a importância da U.Porto no seu percurso profissional e que modo tem ido de encontro às suas expectativas?
Aprendi a Universidade no Porto: por acção ou reacção todo o meu caminho ficou nisso marcado. O acaso e a necessidade fizeram com que a cruzasse com outras Universidades e, como muitos outros, fomos fazendo e vendo o efeito dessas polinizações. Mais que tudo, a Universidade do Porto mostrou-me que o trabalho sério, a vontade de aprender, a perseverança e as equipas adequadas são capazes de criar o melhor.
Como avalia o papel desempenhado pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país) e de que modo ele se poderá projectar para o futuro, com especial enfoque no campo da investigação e da produção de conhecimento e inovação?
A universidade tem que ser a referência da região, mais do que da cidade, e até do país mais do que da região: numa sociedade que recupera lentamente de atrasos seculares, que vive convalescenças difíceis, a coragem de querer criar e manter uma elite será a prova essencial. Não basta dizer-se que se é melhor, o melhor. Actualmente, a propaganda ganhou o espaço da vida, há hierarquias para todos os gostos, compra-se a posição nas pesquisas da rede! Não é isso que interessa – mesmo mais lento, mais doido, o que importa está para lá dos minutos de fama que qualquer diversão sempre proporciona. Estou seguro que cada vez mais fora do nosso espaço geográfico, demográfico e social de influência haverá gente a procurar a Universidade como o bom lugar para viver a aventura do conhecimento e da ciência.
Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional? Como prevê o papel de uma Universidade do Porto daqui a 100 anos?
A universidade é uma instituição. Não devemos seguir o canto dos profetas das soluções miraculosas – sempre os há. A função da universidade é respeitar o passado, o passado enquanto o melhor do que foi feito, para assim inventar o futuro. Por isso, como a Presidente de Harvard escreveu no seu discurso de posse, é muito provável que esteja em conflito com o seu presente. Se for capaz de atravessar os saberes, não esquecer as humanidades e fugir da instrumentalização – ser uma universidade de investigação ao serviço do conhecimento, da aventura de descobrir e não dos interesses de empresas que se deslocam ao sabor da cobiça – será uma grande, grande Universidade em 100 anos!
Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do Porto.
A Universidade, como a conhecemos, republicana, napoleónica na sua constituição tardia, tem um desafio essencial – redesenhar o espaço fechado das escolas para abrir caminhos ao cruzar de conhecimentos e inquietações. As ideias verdadeiramente originais nascem de aí. Os últimos anos mostram as fortificações a serem lentamente retiradas. Que no sossego discreto que a Universidade sempre necessitará fluam definitivamente livres as pessoas e as ideias.
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