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Manuel Ribeiro da Silva: “A qualidade da investigação produzida na U.Porto é reconhecida inequivocamente”

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O Olhar de...

- Professor universitário português

- Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), instituição onde lecionou de 1965 a 2010 e da qual foi diretor (1986 – 1998)

- Professor Emérito da Universidade do Porto (2011)

- Presidente da Sociedade Portuguesa de Química (1985-1989)

- Antigo estudante da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), com Licenciatura em Engenharia Quimico Industrial (1965)

 

- Como é que teve origem e se desenvolveu a sua ligação à Universidade do Porto? Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto estudante e professor?

 

Quando terminei o então 7º ano no Liceu Normal D. Manuel II, no Porto, decidi escolher o curso de Engenharia Química. A Universidade do Porto foi a escolha óbvia, até por razões económicas uma vez que residia nesta cidade. A escolha de um curso de engenharia foi, sem dúvida, o resultado de meu Pai ser engenheiro e de me sentir fascinado por aquilo que via ser o desempenho sua profissão. O gosto pela Química foi algo que desenvolvi enquanto aluno do liceu, fruto das aulas de uma excelente Professora, a Drª. Cândida Strecht Monteiro, que ainda hoje recordo com saudade. A licenciatura era de 6 anos, os três primeiros dos quais, os chamados “Preparatórios”, na Faculdade de Ciências, seguidos dos restante três na Faculdade de Engenharia.

Os Preparatórios eram constituídos por uma série de cadeiras de índole geral, das áreas de matemática, física, química, mineralogia, etc., muitas delas lecionadas em conjunto com licenciaturas da FCUP e, no caso da química, com a Licenciatura em Farmácia, que nos davam uma formação básica muito sólida e conhecimentos relevantes para o resto do curso. O ensino na FCUP era muito rígido e exigente, mas rigoroso. Aquilo que, frequentemente, nos parecia ser um excesso de rigor veio a demonstrar-se ser uma mais valia fundamental no desenvolvimento das nossas carreiras. Genericamente, havia um grande distanciamento entre professores e estudantes, mas tal não obstou a que tivesse ficado com uma grande admiração e amizade por alguns deles: os Professores João Cabral e Fernando Serrão, meus professores da área de química que me fizeram sentir a beleza desta Ciência, o Professor Jayme Rios de Souza, grande animador do desporto universitário com quem tive o prazer de colaborar longamente no CDUP, o Professor Moreira de Araújo, sem dúvida o “meu melhor professor”, com as suas aulas que cativavam os alunos e, exposições em que tudo parecia simples, só nos apercebendo da sua complexidade aquando do subsequente estudo desses conteúdos (!...) e o Professor Montenegro de Andrade pela sua frontalidade e pelo gosto que me despertou na mineralogia.

Aos Preparatórios seguiram-se, na Faculdade de Engenharia, os três últimos anos da licenciatura, num ambiente diferente, mais descontraído, com matérias mais específicas direcionadas numa perspetiva de maior aplicabilidade, de engenharia.  Também aí tive mestres que me marcaram pelo rigor das suas aulas, como os Professores Joaquim Sarmento e Horácio Maia e Costa.

Da vida de estudante guardo a memória da camaradagem e do clima de companheirismo entre todos os colega, bem mais forte daquela que hoje me apercebo existir entre os nossos estudantes, da minha atividade desportiva e de dirigente no CDUP, das muitas amizades aí criadas e que ainda hoje perduram.

Terminada a licenciatura em Engenharia Químico Industrial, em 1965, seguia-se o serviço militar então obrigatório (estávamos em plena guerra colonial). Não fui imediatamente incorporado, embora o tivesse pedido pois, nesse tempo, não se arranjava emprego sem ter o serviço militar cumprido! Disseram-me que ainda era cedo e só seria incorporado no ano seguinte! Na expectativa de ficar um ano sem nada fazer, decidi ”ceder” ao convite que já anteriormente me tinha sido feito pelos Professores João Cabral (Diretor do Laboratório de Química) e Jayme Rios de Souza (Director da FCUP), para Assistente de Química na FCUP, não sem antes ter considerado que isso seria uma situação transitória, pois não queria de maneira nenhuma fazer carreira universitária pelo que, quando terminasse o serviço militar, não queria voltar ao meu lugar de Assistente! Relembro as palavras do Prof. Rios de Souza, “depois logo se verá”!

Fui, então, contratado como 2º Assistente, além do Quadro, do Grupo de Química da FCUP, cargo que exerci durante o ano lectivo de 1965/66, com um serviço letivo bastante pesado (28 horas de aulas práticas semanais a que se juntou uma regências teórica (2 h) de Química Médica no 2º semestre!), o que era habitual nesses tempos! Em Setembro de 1966 fui chamado a cumprir o serviço militar obrigatório na Armada Portuguesa, que concluí em Abril de 1969, tendo então regressado à FCUP. Foi-me distribuído serviço letivo até final de Junho, no qual tive a sorte de ter um conjunto de excelentes alunos (seis dos quais vieram também a seguir a carreira universitária, alguns dos quais são Professores Catedráticos) que me entusiasmaram de tal maneira que decidi continuar a minha carreira na Universidade! A esse conjunto de estudantes ficou a dever-se a minha mudança de atitude com vista a um futuro profissional!

No ano letivo imediato, 1969/70 continuei na FCUP como 2º Assistente com um serviço letivo de 29 horas semanais (5 regências teóricas de 4 cadeiras diferentes), tendo em Novembro de 1970 iniciado, na Universidade de Surrey (UK), o meu trabalho de doutoramento como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Obtido o grau de Ph.D. em Janeiro de 1974, regressei à FCUP onde, como Professor Auxiliar, retomei a minha carreira universitária que se desenvolveu normalmente, com concurso para Professor Extraordinário (a que se associava a Agregação) em 1978, Professor Catedrático em 1979 e, finalmente, a jubilação em Setembro de 2010.

Da minha carreira docente recordo os aspetos relacionados com a progressão na carreira, os progressos conseguidos na investigação, o gratificante contacto com os alunos de graduação e de pós-graduação, com quem compartilhei muitas horas de trabalho, a amizade de colegas e o ambiente de trabalho no Departamento.

 

- Qual a importância da U.Porto no seu percurso profissional e de que modo foi de encontro às suas expectativas?

 

Todo o meu percurso profissional foi desenvolvido na Universidade do Porto, com excepção do meu doutoramento no Reino Unido e de alguns curtos períodos em que realizei trabalho de investigação na Universidade de Manchester.

Considero um privilégio ser Professor Universitário pelo gratificante contacto com os alunos, pelo prazer de ensinar, o fascínio do desenvolvimento da investigação científica, a liberdade de pensar e trabalhar.

Foi na Universidade do Porto que defini o meu caminho profissional, que passei a maior parte do meu percurso de vida, e que tive a felicidade de poder fundar um Grupo de Investigação numa área que foi pioneira em Portugal que, sem falsa modéstia, posso afirmar ser reconhecido em Portugal e internacionalmente. Foi através deste Grupo que concretizei os meus sonhos e projectos de trabalho e partilhei, com os meus colaboradores, muitas alegrias (e algumas tristezas). A eles agradeço o sucesso de, em conjunto, termos criado “do nada” e implementado o nosso Grupo de Investigação, onde desenvolvi uma carreira profissional de que muito me orgulho.

Reconheço que a importância da Universidade do Porto no meu percurso profissional foi decisiva, e é com muito orgulho que afirmo que cresci, vivi e vivo na Universidade do Porto, o que considero uma honra.

 

- Como avalia o papel desempenhado – no passado e no presente - pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país), com especial enfoque no campo da investigação científica?

 

A Universidade do Porto é hoje uma referência nacional em termos de qualidade e quantidade de investigação (sendo a maior fonte nacional de artigos científicos publicados) e da qualidade do seu ensino. Com uma grande diversidade de valências e saberes e uma grande riqueza de recursos humanos, a U.Porto prepara anualmente centenas de diplomados nas várias áreas de competência, das Ciências às Letras, das Engenharias à Medicina, da Economia ao Direito, da Arquitectura às Belas Artes, etc. Possuidora de um notável dinamismo, a Universidade do Porto tem-se assim afirmado como uma fonte de desenvolvimento profissional e científico, de promoção do conhecimento, contribuindo, inequivocamente, para o desenvolvimento da Sociedade, não só da Cidade em que está inserida, mas também da Região e do País.

A qualidade da investigação produzida na U.Porto é hoje, reconhecida inequivocamente, no panorama científico do País, facto que é testemunhado pelo número e qualidade dos seus centros de investigação, um grande número dos quais tem sido classificado como “excelente” pelos painéis de avaliação internacional, como é também reconhecida internacionalmente pelas parcerias que tem com centros de investigação de todo o mundo e a atribuição de prémios internacionais a alguns dos seus investigadores. A dinâmica criada na investigação durante as últimas décadas é garante de que a U.Porto continuará a desenvolvê-la no futuro que se avizinha.

 

- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional?

 

A U.Porto terá de, necessariamente, manter a continuidade do desenvolvimento que tem vindo a cultivar, com uma permanente abertura ao exterior (indústria, organizações e empresas, públicas e privadas), incrementar a diversificação dos seus saberes e competências numa perspectiva das necessidades da Sociedade em que está inserida, mantendo uma permanente abertura à inovação e à internacionalização, sem descurar uma cultura de rigor e exigência.

Parâmetros tão simples mas sem dúvida tão exigentes como os anteriormente indicados pressupõem que os seus diversos agentes, Professores, Investigadores, Funcionários e Estudantes desenvolvam cada vez melhores aptidões e maior rigor, nas componentes de formação científica, cultural, de investigação e de desenvolvimento tecnológico, e que a riqueza de diversidade, independência e identidade das Unidades da U.Porto seja preservada, com uma perspectiva de uma maior interação e colaboração mútua das suas múltiplas e várias valências.

 

- Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do Porto (formato livre)

 

Sendo hoje a Universidade do Porto já uma grande Universidade, com prestígio firmado nacional e internacionalmente, desejo que possa superar-se continuamente no seu percurso de sucesso, de qualidade e de exigência, afirmando-se cada vez mais, como uma Universidade de excelência, inovadora, dinâmica e aberta, promovendo um ensino eficaz e uma investigação de referência, onde estudantes e académicos de todo o Mundo possam encontrar um local de cultura, de competência, de trabalho atraente, criativo, rigoroso e produtivo, correspondendo ao progresso que a Cidade, o País e o Mundo dela esperam.

 
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