O Olhar de...
- Sociólogo e político português
- Ex-deputado da Assembleia daRepública pelo Bloco de Esquerda (2002 – 2009)
- Professor Associado e investigador do Deparmento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
- Antigo Estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) com Licenciatura em Sociologia (1992) e Doutoramento em Sociologia da Cultura e da Educação (1999)
- Como é que teve origem e se tem vindo a desenvolver a sua ligação à Universidade do Porto? Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto estudante/professor da U.Porto?
Recordo com particular agrado a minha experiência como estudante. A descoberta da sociologia, seus autores e livros, a iniciação ao trabalho de campo, a sensação de um mergulho crítico na contemporaneidade, a pretensão, quiçá ingénua (mas ainda hoje válida!), de que os «sociólogos são aprendizes da transformação do mundo», na feliz expressão do meu mestre José Madureira Pinto. Mas também os tempos do Jornal Universitário do Porto, do qual fui redactor e director, a associação de estudantes, em cuja direcção participei activamente e ainda a minha presença no conselho editorial da então revista da UP. Dias intensos, puro início.
E as aulas, enquanto professor, momentos irrepetíveis, cada uma delas, de um encontro com o imprevisto.
- Qual a importância da U.Porto no seu percurso profissional e que modo tem ido de encontro às suas expectativas?
A UP é toda a minha vida de trabalho...Nela encontrei sempre as portas abertas para todas as iniciativas que pretendi fazer. Nela encontrei, ainda, espaços de liberdade. Nunca a minha opinião foi amputada e sempre a criatividade estimulada. Gostaria, no entanto, que existissem mais ocasiões de conhecimento mútuo entre as diferentes instituições da UP. Uma comunidade só funciona como tal com laços fortes.
- Como avalia o papel desempenhado pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país) e de que modo ele se poderá projectar para o futuro?
A UP é a maior oportunidade para a Região Norte, enquanto centralidade de inovação, conhecimento e participação. Mas não tem havido, do ponto de vista das dinâmicas sociais de base territorial, a absorção que se pretenderia do que a UP oferece. Nem tampouco a UP tem ainda a força necessária para mudar uma estrutura produtiva globalmente assente na utilização intensiva de mão-de-obra barata e pouco qualificada e dominada por uma classe empresarial rentista e muito pouco liberal, no sentido clássico...
- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional? Como prevê o papel de uma Universidade do Porto daqui a 100 anos?
A UP tem de desenvolver cada vez mais o seu processo de afirmação pública e política, no sentido lato de tomada de posições estratégicas para o futuro da Região. Sem temer polémicas: criar a dissensão é muitas vezes o ponto de partida das mudanças mais intensas.
Nem sempre é fácil. A Universidade Portuguesa está infelizmente a tornar-se uma máquina cada vez mais burocratizada, sem que tal signifique necessariamente um acréscimo substantivo de qualidade no processo de ensino-aprendizagem. Urge avaliar Bolonha. Duvido que tenha sido uma melhoria generalizada. Há um défice de reflexão sobre todo o processo. Estamos demasiado mergulhados nos «procedimentos».
- Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do Porto.
Menos gestão, mais Universidade!
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