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Rui Sá: “O caminho da U.Porto passa pela afirmação internacional”

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O Olhar de...

- Engenheiro e político português
- Vereador na Câmara Municipal do Porto (1999-) pela CDU

- Director Adjunto para Consultoria e Serviços do INEGI (Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial) da Universidade do Porto.
- Antigo estudante da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), com Licenciatura em Engenharia Mecânica (1988)


Como é que teve origem e se desenvolveu a sua ligação à Universidade do Porto? Que principais momentos guarda dessa experiência?

 

A minha ligação à Universidade do Porto vem quase do berço, dado que o meu pai era professor na Faculdade de Ciências e, desde que me conheço, já tinha irmãos que lá estudavam. Recordo, assim, quando ia ter com o meu pai ao Departamento de Física no edifício dos Leões ou de assistir ao Cortejo da Queima das Fitas, com uma vista privilegiada, de uma janela do edifício (onde me ria com as pantominices dos meus irmãos, longe de saber que idêntica figura faria mais tarde…).

Mas é com a entrada para a Faculdade de Engenharia que se reforça a minha ligação à Universidade do Porto. Quer pela formação como Engenheiro Mecânico, quer pelas inúmeras amizades que lá fiz, quer pela experiência que uma intensa vida académica no movimento estudantil me proporcionou, quer pelo início do meu percurso profissional.

O facto de ter sido eleito, cinco anos consecutivos, como representante dos alunos de Mecânica no Conselho Pedagógico da FEUP, a dinamização da designada “Lista E”, que correspondeu a uma “pedrada no charco” na vida associativa da FEUP e da Academia na década de 80, bem como a participação nos processos de luta pela construção de novas instalações para a Faculdade (sonho apenas concretizado 12 anos depois da conclusão do Curso!) ou contra o aumento dos preços das refeições nas cantinas, são momentos que recordo e que, contribuíram, em muito, para aquilo que sou hoje.

 

- Qual a importância da U.Porto no seu percurso profissional e de que modo foi de encontro às suas expectativas?

 

No início, o curso de Mecânica correspondeu a uma grande frustração, dado que a minha escolha do Curso prendia-se com o gosto pelos desportos motorizados e, motores, nem vê-los!... Por outro lado, as péssimas condições das instalações na Rua dos Bragas (e, em particular, do “Garrett”), não ajudavam à motivação.

Para além da intensa participação na vida associativa, o curso foi “salvo” no 3º ano, com a descoberta das cadeiras da área da Gestão Industrial (opção que segui, perante o gozo dos “verdadeiros” mecânicos, que nos apelidavam de “merceeiros” – sendo certo que, hoje, também eles são, na sua maioria, “gestores”…) e o contacto com os seus professores, como Rui Guimarães, Calafate de Vasconcelos, José António Cabral e Gaspar Sousa Coutinho, com quem dava gosto aprender e se ficava com o “bichinho” de querer saber mais.

Foi exactamente um desses Professores, Rui Guimarães, que um dia, pela hora do jantar, em pleno segundo semestre do 5º ano, me telefonou para casa a perguntar se estaria interessado em trabalhar no INEGI (bons tempos, em que era o empregador a telefonar aos putativos empregados…), instituto recentemente criado e de que era presidente. Ao que respondi, de imediato, que sim, sem saber condições, dado o aliciante de com ele trabalhar e de ficar ligado a uma instituição que tinha estudado no âmbito da minha cadeira de Análise de Projectos de Investimento.

Desde aí, são quase 23 anos sempre ligado ao INEGI, com interrupções para fazer a tropa (e a manutenção do meu posto de trabalho, pelo então Presidente do INEGI, J. Silva Gomes, contribuiu, e muito, para a minha fidelização à instituição) e para, durante quase quatro anos, ser vereador, a tempo inteiro, da Câmara Municipal do Porto.

 

- Como avalia o papel desempenhado – no passado e no presente - pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país), com especial enfoque no campo da investigação?

 

Quando conclui o 12º ano, a Universidade do Porto era “a” universidade, dado que as universidades privadas eram incipientes e as instituições que hoje integram o Politécnico apenas atribuíam bacharelatos. Desse modo, a Universidade era o destino natural daqueles que pretendiam tirar uma licenciatura e pólo de atracção para muitos jovens de outros locais (apenas os que queriam seguir Direito tinham que sair do Porto, dado que os lóbis de Coimbra e de Lisboa, cegos ao interesse nacional e preocupados com o seu umbigo, atrasaram durante anos, com o apoio dos sucessivos Governos, a criação da Faculdade de Direito da Universidade do Porto).

Na altura a Universidade estava muito focada na componente pedagógica, verificando-se um certo alheamento relativamente ao tecido económico e à própria região, sendo que os próprios Doutoramentos, designadamente nas áreas das Ciências, eram feitos maioritariamente no estrangeiro e com pouca ligação a esse mesmo tecido. Esta situação foi alterada na segunda metade da década de 80, com a criação de diversas instituições de interface Universidade/Indústria e uma maior participação dos próprios universitários na vida de várias instituições regionais.

Hoje, a Universidade do Porto, pelo aumento da sua dimensão, pela internacionalização dos seus alunos, pela dinâmica da sua actividade científica, mas, também, pela brutal diminuição e envelhecimento da população do Porto, transformou-se num dos elementos distintivos da cidade, uma riqueza que a autarquia não sabe aproveitar, limitando-se a ter um inócuo programa “Porto, Cidade de Ciência” que tem um orçamento que corresponde a pouco menos de 10% do prejuízo das “Corridas da Boavista”.

 

- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional? Que Universidade do Porto gostaria que fosse celebrada dentro de 100 anos?

 

Afirmando-se como esteio da cidade e da região, o caminho da Universidade do Porto passa pela afirmação internacional.

Sem perder a sua identidade (arrepia-me ouvir aqueles que defendem que as aulas devem passar a ser dadas em inglês, esquecendo que a língua é um dos nossos elementos distintivos que não se pode perder), procurando e fomentando a diversidade de opiniões e de conceitos (lamento que as matérias curriculares, designadamente na área económica e da gestão, tenham vindo a ser praticamente restringidas ao “pensamento único” neoliberal), abrindo as portas a todos os que têm capacidades intelectuais para a frequentar (o que implica combater os cortes nos apoios sociais, o aumento das propinas e as restrições impostas aos trabalhadores-estudantes – de que o fim dos cursos nocturnos são um exemplo), criando formas de rejuvenescimento permanente do seu corpo docente e de investigação, apostando na diversidade das suas características, onde devem caber, igualmente, os pedagogos, os cientistas e os empreendedores, fomentando a cooperação e a racionalização de recursos, pondo de lado o individualismo “umbiguista” e combatendo a diminuição das exigências e do facilitismo, de que Bolonha é, na minha opinião, um expoente. E não deitando para o lixo um percurso com 30 anos de ligação universidade/tecido económico, que demonstrou que a cooperação entre estas duas realidades tem que ser alicerçada em instituições de interface, com quadros de pessoal competente e dinâmicas e culturas que não estejam sujeitas aos calendários lectivos nem às preocupações, legítimas, de progressão nas carreiras académicas.

Por último, pondo de lado os conceitos da auto-sustentação financeira das universidades, condição que, inevitavelmente, conduzirá ao abastardamento dos seus princípios e à perda da sua independência.

Cumprindo-se estes pressupostos, daqui a 100 anos estaremos ainda melhor do que hoje!

 

- Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do Porto.

 

 Resta-me dar os parabéns à Universidade do Porto por estes 100 anos e registar que o orgulho pelo passado não é mais do que uma alavanca para projectar o futuro.

 
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