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José Mota Freitas: “[Os diplomados da U.Porto] podem e devem ser o garante do funcionamento do país”

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O Olhar de...

- Engenheiro civil português

- Projectista de Estruturas de Engenharia Civil, coordenou, entre outros, os projectos do Pavilhão do Futuro, integrado no Parque Expo 98 (1995), do Silo Auto da Trindade (2000) e da Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Com este último, venceu o Prémio Outstrading Structure (OSTRAC) e o Prémio Secil Engenharia em 2007
- Professor Reformado da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), onde leccionou entre 1968 e 2008
- Antigo Estudante da FEUP e da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), com Licenciatura em Engenharia Civil pela FEUP(1964)

 

- Como é que teve origem e se tem vindo a desenvolver a sua ligação à Universidade do Porto? Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto estudante e professor da U.Porto?

 

Ingressei na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) em Outubro de 1957. Matriculei-me em Preparatórios Militares pois tencionava seguir a carreira de Engenheiro Naval da Armada Portuguesa.

O curso desta especialidade era ministrado em parte na Escola Naval (EN) no Alfeite, terminando geralmente no estrangeiro. Para me matricular no 1º ano da EN tinha de optar por: frequentar o 1º ano da Escola do Exército na Amadora, ou fazer a parte escolar na FCUP e com o posto de cadete, ou fazer a parte militar no quartel do CICAP (ex- Reitoria), às quartas-feiras e sábados, via que escolhi.

Em 1958, durante exercícios militares que decorreram nos arredores de Lisboa, num acidente com um cavalo, parti a perna direita. Num mês no Hospital Militar na Estrela, operação, alta na véspera de fazer os exames de admissão à EN, não fui aceite e o meu sonho de seguir a carreira militar, que me acompanhou desde criança, esfumou-se. Tive uma semana para escolher outro curso na FCUP, escolhi Engenharia Civil e nunca me arrependi.

O ensino na FCUP era muito rígido, havia um grande distanciamento entre professores e alunos, não havia apontamentos das diferentes disciplinas e, obtê-los durante as aulas era muito difícil, pois as salas de aula encontravam-se sobrelotadas. Esta situação ocorria só nas disciplinas do 1º ano, pois com taxas de reprovação não inferiores a 80% e com as fugas para Coimbra, o número de alunos decrescia substancialmente nos anos seguintes. Quando me matriculei na Faculdade de Engenharia (FEUP) em Civil, só dois alunos tinham concluído os Preparatórios na FCUP, os restantes trinta e tal do meu curso vinham de Coimbra.

Fiquei com grande admiração por dois grandes mestres: o Professor Sarmento Beires, na Mecânica Racional e o Professor Moreira de Araújo, na Física II. Davam aulas brilhantes que cativavam os alunos.

Fiquei ainda com grande admiração e amizade por dois outros professores:

 

- o Professor Jayme Rios de Souza, que para além da actividade docente, se preocupava imenso com os alunos, criando cantinas, lares para alunos e dedicava ainda especial interesse pelo desporto universitário, através do CDUP. Merecia uma homenagem póstuma!

- o Professor Fernando Serrão que, para além  de ser um magnífico professor granjeava o respeito e a amizade de todos os que tinham o privilégio de com ele conviver. Promovia, apoiado por um grupo de alunos, visitas de estudo interessantíssimas, festas de recepção aos caloiros, espectáculos variados, um dos quais no Coliseu do Porto que encheu completamente, etc. Faleceu inesperadamente e ainda muito novo. Foi um choque enorme para as múltiplas pessoas que o estimavam e que viram partir tão bruscamente um Grande Amigo, um Homem Bom, um Mestre Ilustre.

 

O ingresso na FEUP foi um choque, não tão grande como o que tive na passagem do liceu D. Manuel II para a FCUP, mas mesmo assim foi um choque: faltavam-me os integrais, as equações diferenciais e mais coisas… Lá me fui habituando e terminei por gostar.

Recordo com muita saudade os ilustres professores Armando Campos e Matos, Correia de Araújo e Joaquim Sampaio, de quem fui muito amigo e com quem muito aprendi. Tenho esporadicamente a alegria de me encontrar com dois outros grandes professores: o Professor Joaquim Sarmento e o Professor Guedes Coelho. Com eles também muito aprendi e tenho sido honrado com a sua amizade.

Após quatro anos de Serviço Militar Obrigatório, dois dos quais em Angola, ingressei no corpo docente da FEUP como Assistente além do Quadro (e logo eu que sou alérgico ao giz!). Estava-se em Outubro de 1968. Atenderam ao facto de eu estar afastado dos estudos há muito tempo e atribuíram-me apenas aulas práticas de quatro disciplinas diferentes. Temo não ter agradecido a atenção!

No fim do ano escolar escrevi uma carta ao Professor Correia de Araújo a pedir a minha demissão, pois tinha imenso trabalho e ganhava uma miséria: 1800 escudos ( 9 euros), numa altura em que pagava uma renda de casa de 2500 escudos (12,5 euros). O Professor Correia de Araújo, então director da FEUP, enviou a carta ao Ministro da Educação e conseguiu um aumento para todos os Assistentes: recordo-me que já dava para pagar a renda da casa. Era uma fartura!

Só em 1973, após ter dado aulas práticas e teóricas de oito disciplinas, e regressei após o 25 de Abril a convite do Professor Joaquim Sarmento e dos seus alunos, para dar apoio a aulas práticas de Betão Armado. Terminado o ano lectivo de 1973/74, fui apanhado pelo Professor Vasco de Sá de Engenharia Mecânica e por lá estive a dar aulas até Outubro de 1978. Nessa altura regressei a Civil, pois fui convidado pelo Professor Joaquim Sarmento, para tomar conta da disciplina de Resistência de Materiais, até então regida por ele. Aceitei a difícil tarefa com receio, pois substituir tão ilustre professor não era fácil.

De 1978 a 1982, ano em que saí da FEUP novamente, passaram-me pelas mãos excelentes alunos que hoje pontificam nas diferentes áreas de actuação por que optaram.

Regressei em 1985, tendo sido encarregado de leccionar disciplinas das áreas de Construções Metálicas e de Construções Mistas, funções que desempenhei até me reformar, com 70 anos, em 18/04/2008. Neste momento sou Professor Catedrático Convidado Jubilado da FEUP.

Neste longo intervalo de tempo - de 1968 a 2008, com duas pequenas interrupções - tive bons colegas, excelentes alunos e criei entre uns e outros, sólidas amizades. Foi bom!

 

- Qual a importância da U.Porto no seu percurso profissional? De que forma foi de encontro às suas expectativas??

 

A formação adquirida na FEUP foi mais que suficiente para iniciar a minha actividade profissional como projectista de estruturas. Como outro profissional que se preze, mantive-me sempre como um estudante dessa arte, procurando aprofundar os meus conhecimentos. Ao longo dos muitos projectos que fui elaborando ganhei “engenho” suficiente para, em muitos deles, incutir um cunho muito pessoal nas soluções estruturais adoptadas. Deram-me muita satisfação.

 

- Como avalia o papel desempenhado pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país) e de que modo ele se poderá projectar para o futuro?

 

Pediram-me que falasse da minha experiência enquanto aluno e professor da U. Porto e ainda, da importância que teve a formação obtida enquanto aluno na minha posterior actividade profissional. Foi isso que fiz, e o meu relato abrange 50 anos da história da U.Porto: os mais velhos recordar-se-ão das suas próprias provações; os mais novos poderão aprovar o progresso conseguido durante esse período de tempo.

Hoje, a Universidade do Porto, através das suas várias Faculdades, é uma fonte que produz anualmente centenas de diplomados de vários saberes, que podem e devem ser o garante do funcionamento adequado do nosso país. Com tanta gente competente e trabalhadora, o que terá falhado para chegarmos à situação em que nos encontramos? A conjuntura internacional? Erros nossos, má fortuna…?

 

- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional? Que Universidade do Porto gostava que se celebrasse daqui a 100 anos?

 

Esta questão foi já brilhantemente analisada por dezasseis ilustres personalidades, como consta da “Edição do Centenário da Universidade do Porto” da revista “U.Porto Alumni”. Seria estultice da minha parte tentar acrescentar o que quer que fosse.

 

- Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do Porto.

 

À Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário, na pessoa do seu Presidente, Professor Luís Valente de Oliveira, deixo aqui os meus parabéns pela forma sábia como soube aproveitar este evento para promover a aproximação da U.Porto à sociedade.

Ao Senhor Reitor, Professor Marques dos Santos, deixo os meus agradecimentos pelo trabalho notável que tem desenvolvido em prol da U.Porto. Bem-haja!

 
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