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José Pinto da Costa: “A Universidade tem imposto a sua voz mediante a sua qualidade”

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O Olhar de...

- Médico e professor universitário (mais informações)

- Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e Professor Jubilado do Instituto de Ciências biomédicas Abel Salazar (ICBAS)

- Ex-director do Instituto de Medicina Legal do Porto, responsável pela instituição do Mestrado de Medicina Legal do ICBAS

- Antigo Estudante da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), com Licenciatura em Medicina (1960)

 

- Como é que teve origem e se desenvolveu a sua ligação à Universidade do Porto?

 

A minha ligação à Universidade do Porto iniciou-se muito cedo desde criança, quando dizia que queria ser médico e dava injecções num urso de peluche que ainda hoje guardo. Como pessoa nascida e criada na cidade do Porto, a opção mais lógica foi escolher a Universidade da minha cidade. Já na época a sua qualidade era de referência em várias áreas como a Medicina. É para notar que nesta Escola Médica leccionaram vultos insignes das artes e ciências nacionais, como Júlio Dinis, Magalhães Lemos, entre outros.

Também os antecedentes familiares de docentes na área da Medicina nesta escola, designadamente o meu tio-bisavô Carlos Alberto de Lima, professor catedrático de Patologia Cirúrgica e o Prof. Carlos Lima, meu primo, professor catedrático de Ortopedia, reforçaram a minha escolha. Nunca me ocorreu trocar a prestigiada Faculdade de Medicina do Porto, por outra nacional, designadamente a de Coimbra ou de Lisboa que eram as existentes à data da minha entrada para a Universidade. 

 

- Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto estudante e, posteriormente, como professor e investigador?

 

O período de tempo que estive ligado como aluno de pré-graduação à Universidade do Porto, designadamente à Faculdade de Medicina foi gratificante pelo que aprendi, pelos hábitos de estudo que adquiri, pelo rigor incutido na investigação e no trabalho diário, que me foi proporcionado no Centro de Cirurgia Experimental do professor Hernâni Monteiro, no qual iniciei a minha actividade de investigação auxiliando, ainda como estudante, o Professor Joaquim Pinto Machado.

Guardo na memória algumas aulas leccionadas por Professores de excelência que me cativavam pela sua simplicidade de exposição o que por vezes não era bem valorizado por todos os alunos. Ensinar foi e continua a ser para mim expor temas, ideias, conhecimentos para que as pessoas a quem se destina essa acção compreendam com clareza o que foi dito por forma a cada um elabore o seu próprio conhecimento. Falar de forma muito eloquente sem que ninguém entenda não era, não é, nem nunca será ensinar.

Mais tarde como docente da Universidade do Porto agi segundo o lema de que um professor só ensina quando o aluno fica a saber. Nunca tive dificuldade em captar a atenção dos meus alunos e ainda hoje nas múltiplas intervenções académicas que prossigo mantenho a mesma atitude para o que devemos colocarmo-nos ao nível do aluno, motivando-o de modo a captar a sua atenção.

A minha ligação à Universidade do Porto data de 1953 quando iniciei os estudos na Faculdade de Medicina, com percurso até aos dias de hoje, de aluno a professor catedrático, agora jubilado, mas continuando a actividade pedagógica em resposta a curso breves de iniciativa de alunos e em colaboração com vários mestrados.

Mantenho o mesmo entusiasmo da primeira aula prática de medicina legal que “dei” oficialmente em 1961 como jovem assistente de Medicina Legal e Toxicologia Forense da Faculdade de Medicina. Acredito e perfilho que a eficácia passa por aqueles que fazem as coisas com brilho nos olhos.

O conhecimento que adquiri na Universidade do Porto resultou nos múltiplos convites de outras Universidades públicas e privadas para partilhar a minha experiência.

Herdei dos meus mestres, muito particularmente do Professor. Francisco Nunes Guimarães Coimbra e Professor Carlos Ribeiro da Silva Lopes, devotados mestres e meus antecessores na cátedra de Medicina Legal que regi desde 1976 até 2001, na Faculdade de Medicina e depois no Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar desde a sua criação até 2004.

Guardo boas recordações dos mais de cinquenta e cinco anos de aplicação universitária inclusive dos tempos conturbados da mudança nos anos 70, estremecendo a instituição universitária, com saldo positivo pela abertura ao conhecimento, pela expressão livre do pensamento, pela recuperação de docentes afastados do País por razões políticas e pela aceitação de docentes de outros países.

A Universidade do Porto abriu-se ainda mais ao mundo e fomos perdendo o carácter provinciano classicamente carimbando o comportamento português.

 

- Qual a importância da U. Porto no seu percurso profissional e de que modo foi de encontro às suas expectativas?

 

Com intermitentes contactos com universidades estrangeiras a nível de centros médico-legais, a linha mestra contínua do percurso profissional que trilhei esteve e está na Universidade do Porto, com aproximação científica no âmbito do nivelamento internacional da investigação aturada mediante programações prévias. Foi assim que em reconhecimento da investigação científica, da pesquisa permanente e da apreciada pedagogia médico-legal, que aprendi na Universidade do Porto, foi concedida ao Professor de Medicina Legal a honra de em Budapeste ter sido o primeiro português eleito como vice-presidente da Academia Internacional de Medicina Legal e de Medicina Social. Assim, a Universidade do Porto desbravou o caminho antes impenetrável no contexto internacional a representantes de outras universidades nacionais.

O Instituto de Medicina Legal, pertença da Universidade do Porto até 1975, por integração dele no Ministério da Justiça, possuía o carácter universitário inerente à respectiva paternidade. Foi nesse extinto Instituto que iniciei o meu percurso profissional, académico, pedagógico, de pesquisa e de investigação já que a respectiva orientação e gestão dependiam da Faculdade de Medicina, incluindo a vinculação do quadro técnico e administrativo nomeado pelo Ministério da Justiça.

Juntamente com o vínculo ao Ministério da Educação através da Universidade do Porto, a minha actividade de investigação e pesquisa beneficiaram das situações concretas experienciadas, já que os serviços médico-legais cuja carreira desenvolvi em paralelo com a de professor universitário, me proporcionaram um manancial apropriado para o estudo aprofundado das questões.

Tive uma preparação apropriada, começando a lavar frascos no laboratório e depois fui adquirindo mais conhecimento chegando à direcção do Instituto de Medicina Legal em 1976 na qual permaneci durante 25 anos.

 Congratulo-me pela contribuição que prestei à medicina legal outrora apenas considerada a nível universitário sem a plena inserção social de aplicação prática de conhecimentos médico-psico-biológicos às questões de direito nas mais diversas expressões deste.

É com uma pontinha de orgulho que fui introdutor das ciências médico-legais em universidades privadas.

Por iniciativa de estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, da Faculdade de Medicina Dentária e da Faculdade de Direito da nossa Universidade, bem como de alunos da Escola de Direito da Universidade do Minho, continuo a realizar anualmente Cursos de âmbito médico-legal, o que me congratula muito por ser escolhido pelos alunos.

A projecção da Universidade do Porto mantém-se diária e permanente sempre que em palestras, conferências e seminários sou apresentado como professor jubilado da Universidade do Porto. 

 

- Como avalia o papel desempenhado – no presente e no passado - pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país), com especial enfoque nas áreas da investigação e da produção de Conhecimento & Inovação?


No passado, a Universidade do Porto era a expressão regional da cultura centrada no Porto, para o Norte do País. Actualmente, é um pólo de cultura, de investigação e de pesquisa excelente projectando-se para o estrangeiro, sendo a universidade portuguesa que mais oportunidades proporciona na múltipla diversidade dos cursos ministrados. Contrariando um centralismo desenfreado, a Universidade do Porto tem imposto a sua voz mediante a sua qualidade científica e pedagógica com reconhecido espírito inovador e empreendedor, constituída como Fundação, chamando a sociedade civil à qual retribui pela larga difusão do conhecimento no seio da colectividade.

 

- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a
Universidade no contexto regional, nacional e internacional?

 

A Universidade do Porto deverá prosseguir a abertura a todos os que procurem nela o saber e a sua aplicação na vida diária de forma a torná-la melhor. No futuro a Universidade do Porto deve reforçar a abertura à sociedade, melhorar a mobilidade de docentes e alunos, criar oportunidades para que todos os que querem aprender o possam fazer nesta instituição, utilizando as novas tecnologias para alargar o seu leque de competências, como o ensino à distância, atraindo cientistas de outros países que queiram trabalhar connosco, fomentar o espírito de competição interna e externa, procurar a excelência dos seus alunos e colaboradores, reanimar os valores humanistas por vezes tão esquecidos, auscultando a comunidade em que está inserida e reforçando o seu impacto no mundo com repercussão nos rankings mundiais dos estabelecimentos de ensino superior, sem esquecer a humanidade e a ética que o saber e o conhecimento subentendem.

 

- Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do Porto.

 

No seu centenário desejo as maiores felicidades à Universidade do Porto agradecendo a informação e formação que me proporcionou e que me projectou na sociedade.

Faço parte desta instituição há meio século. As memórias e os afectos que guardo da íntima vivência experienciada, nos momentos bons e nos menos bons fazem parte da minha personalidade pelo que nunca me poderei dissociar da Universidade do Porto.

Deixo uma mensagem de esperança no sentido do seu sucesso, do reforço do seu prestígio, no melhoramento da sua qualidade, na criação de novas ideias, na difusão do conhecimento, na criação de um espírito acolhedor, amigo, fraterno a todos os seus membros, alunos, professores, técnicos e administrativos com o objectivo da criação de uma consciência gratificante de ser membro da Universidade do Porto. Há que reforçar o espírito de grupo sem contudo fechar-se sobre si própria. Abrir as portas, ser audaz, contemporânea, olhar mais para o futuro do que para o passado, sem esquecer que tem um passado de que se deve orgulhar, ser inovadora pois as novas ideias e a liberdade criativa e apelativa especialmente dos mais novos são peças fundamentais para o futuro da Universidade do Porto.

Desejo que 100 anos depois destes primeiros cem a Universidade do Porto esteja no lugar cimeiro que merece e para o qual todos os que a ela pertencemos em qualquer nível de ocupação humildemente contribuímos para esse objectivo sem olvidar que agora cabe essencialmente aos jovens transportar mais alto o facho da nossa Universidade que lhes transmitimos neste centenário.

Por mim, haverá sempre disponibilidade para contribuir par o seu perfil académico, agora, quando sou chamado, e depois através dos livros e imagens arquivados, fruto da educação que recebi na Universidade e que devolvo como prova de gratidão.

 
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