O Olhar de...
- Engenheiro e empresário português
- Managing Director da Pathena. Fundador e co-fundador de várias empresas inovadoras na área das TI, como a Enabler, a Mobicomp, a QuiiQ e a Cardmobili
- Professor da EGP – University of Porto Business School / EGP-UPBS (2005 - …). Professor e membro do Conselho Geral da Universidade do Minho.
- Antigo estudante do Instituto Superior de Estudos Empresariais / ISEE da U.Porto (génese da Escola de Gestão do Porto, hoje EGP-UPBS), com um MBA em Gestão (1989-90)
[Mais informações]
- Como é que teve origem e se desenvolveu a sua ligação à U.Porto? Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto estudante e professor da EGP?
Comecei por ser professor convidado da Faculdade da Economia da U.Porto. Depois, mais tarde, aluno do primeiro MBA da EGP [Escola de Gestão do Porto] – na altura ISEE. Que guardo dessa altura? A memória de um tempo extraordinário em que uma “procura reprimida” de profissionais que queriam muito fazer um MBA e só tinham Lisboa como opção o fizeram no Porto pela primeira vez. Naturalmente, os colegas eram excelentes – aprendi tanto com os colegas como com os professores. Guardo a lembrança de pela primeira vez, e de um modo estruturado, ter uma visão holística da empresa – com os muito elevados contributos do Profs. Daniel Bessa, Rui Guimarães, Neves Adelino e o saudoso José Valente.
Bastante tempo transcorrido, já como docente da EGP, fui/sou testemunha de uma mudança geral para melhor da preparação dos quadros portugueses. E também de uma atitude muito mais participativa – pela primeira vez em muito tempo sinto que as pessoas estão a tomar o seu futuro nas suas mãos. Já não esperam nada de ninguém – tão somente sabem que dependem de si próprias. Estou certo que a EGP contribui positivamente para formar esta consciência.
- Qual a importância da passagem pela Universidade no seu percurso profissional e de que modo foi de encontro às suas expectativas?
A resposta a esta pergunta já deve transparecer da anterior. A passagem pela Universidade (primeiro no Minho e depois no Porto) marca o melhor tempo da minha vida. Um tempo de estudo mas também de vida solidária; um tempo de sonho, antes do embate com o mundo do trabalho; um tempo de formação dos valores certos – que estruturam o resto dos dias; um tempo em que conheci a minha esposa; um tempo de edificação, tanto no sentido técnico como na aceção humanística da palavra.
- Como avalia o papel desempenhado pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país) e de que modo ele se poderá projetar no futuro?
Avalio muito positivamente. A Universidade tem contribuído decisivamente para mudar a matriz de especialização industrial do país e também para formar/treinar a geração mais educada que Portugal já teve. Sem ela não teria sido possível passar de 6% de licenciados para 16%, não teria sido possível baixar drasticamente a mortalidade infantil do país, não teria sido possível construir um setor de serviços que, há quarenta anos atrás, nos teria sido impossível almejar.
Mas temos ainda muito a fazer. Uma vez elevada a produtividade (quantidade e qualidade) da produção de ciência em Portugal, torna-se necessário não só manter e se possível elevar esse nível, mas também melhorar (e muito) a equação de transferência de conhecimento e conversão do mesmo em valor económico. Precisamos ainda de tornar a dialética Universidade-Indústria muito mais forte – a investigação aplicada pode ser uma fonte de financiamento e de desafio para a comunidade científica.
- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e Internacional? Que Universidade do Porto gostaria que se celebrasse daqui a 100 anos?
O caminho terá de ser um de cada vez maior exigência – ditada pela especialização e pela competitividade. A Universidade terá de ser cada vez mais uma Universidade Europeia de grande reputação – que se constrói com ciência reconhecida e com atração dos melhores alunos – venham eles de onde vierem, não necessariamente só de Portugal. A Universidade e a Cidade terão de funcionar como polos de atração para novas empresas se erigirem à sua volta – recorrentemente e nos mais diversos domínios.
É difícil falar a 100 anos – com esperança de que saibamos não destruir a Humanidade nesse período (e há riscos reais que pesam sobre esta asserção). Mas gostaria de falar de uma Universidade de Homens Completos (artes/humanidades e ciências – com balanço inter-pessoal e intra-pessoal). Uma Universidade reconhecida como uma das 20 de topo da Europa em dois ou três domínios de especialidade. Uma Universidade com “Clientes” recorrentes ao longo da vida – nessa altura será normal ser licenciado várias vezes ao longo da vida por via da fatal obsolescência do conhecimento (ainda mais rápida que hoje).
- Mensagem alusiva aos 100 anos de Universidade do Porto
100 anos é muito tempo. Muitos parabéns pois. Mais do que merecidos.
Mas 100 anos não é muito tempo face à importância da Universidade como conceito estruturante da Sociedade. Projete-se pois os 100 seguintes. E faça-se isso com o sentimento (bem futurólogo) de construir, de desenhar o futuro. Ele não acontece, desenha-se.
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