O Olhar de...
- Designer e professor universitário português
- Diretor artístico do gabinete White Studio | Vencedor de um prémio GRAPHIS platina na edição 2012 dos prémios "100 Best in Design 2012"
- Professor da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP) desde 1987
- Antigo Estudante da Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), com licenciatura em Design da Comunicação (1987)
- Como é que teve origem e se desenvolveu a sua ligação à Universidade do Porto? Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto estudante e professor da FBAUP?
A minha ligação à U.Porto teve origem no curso de Design de Comunicação, na então designada Escola Superior de Belas Artes do Porto. Em 1982, a oferta de ensino artístico em Portugal era diminuta e, à data, não hesitei pela escolha qualitativa da escola do Porto. Vim encontrar uma escola onde ainda se praticava, embora não por via curricular, a integração das artes. Ou seja, nas salas cumpriam-se os programas dos diferentes cursos mas nos jardins, nos corredores ou na cantina os estudantes de design, de pintura, de escultura e de arquitetura partilhavam temas, projetos, ideias, angústias, histórias, amores e refeições fazendo do espaço da Faculdade um imenso palco da referida integração. Numa época efervescente sob o ponto de vista político, o magnífico e luxuriante jardim era muitas das vezes a extensão e o lugar para as conversas entre os estudantes, os funcionários e os professores. Recordo com emoção e saudade a rotina do Sr.º Sebastião, então funcionário auxiliar do Pavilhão de Gravura, que tinha a particularidade de afixar num tronco de uma frondosa árvore poemas ou dedicatórias que animavam e alimentavam a nossa inspiração. Ter a possibilidade de almoçar, conversar e namorar no jardim, durante anos, são as memórias mais fortes e mais bonitas e que estão na origem da minha relação com a FBAUP.
Enquanto professor, não consigo identificar um momento em particular. Talvez as mensagens, inesperadas e dispersas no tempo, de estudantes, em que estes manifestam uma gratidão e um reconhecimento genuíno pelo tempo que partilhámos em comum e nas quais percebo que dei o que podia e tinha que dar. Nestes pequenos gestos alicerço a minha vontade de continuar a fazer melhor, enquanto docente.
- Qual a importância da passagem pela Universidade no seu percurso e que modo foi/está a ir de encontro às suas expectativas?
A passagem pela U.Porto foi determinante para a definição do meu percurso. Se não tivessem ocorrido as circunstâncias que descrevi na questão anterior, não teria a oportunidade de ter professores como Dario Alves, Jorge Afonso, Ângelo de Sousa, Fernando Pernes, Sá Nogueira, Eduardo Tavares, Joaquim Matos Chaves, Domingos Pinho, entre tantos outros, que me ajudaram a enriquecer a minha cultura das imagens e a ver o “mundo” através da referida integração das artes. Apesar de, como tenho o hábito de afirmar, nunca ter vacilado em termos de opção artística – sempre desejei ser designer –, o meu background de formação teve nas artes plásticas, na escultura e mesmo na arquitetura o campo fértil para que hoje possa ser mais sensível e interessado por diversas áreas, as quais integro no meu desempenho profissional enquanto designer.
- Como avalia o papel desempenhado pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país) e de que modo ele se poderá projetar para o futuro?
A U.Porto tem a tremenda particularidade de se fundir com a cidade, não só ao nível do património edificado, como da sua esfera sociológica. Quem habita a cidade confunde-se e integra a comunidade mutante estudantil, desenhando geração atrás de geração uma realidade sem definição de fronteiras. Essa argamassa sociológica faz da U.Porto e da sua relação com a cidade uma exigência que, honestamente, a instituição não tem vindo a aproveitar quer como espaço de afirmação, quer como espaço exploratório para cimentar as novas exigências e demandas do ensino superior qualificado, na Europa do século XXI. Diria, em resumo, que identifico uma janela de oportunidade, ainda vazia, para que a Universidade se possa afirmar mais com a cidade e pela cidade.
- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional? Que Universidade do Porto gostaria que se celebrasse daqui a 100 anos…?
Gostaria que se celebrasse uma Universidade que só tenha sentido existir neste local, respeitando os valores da região e do nosso país. Uma Universidade que justamente com esses valores e por causa deles se afirmasse no mar das ofertas que existem, diferenciando-se de todos os outros não-lugares onde se oferece ensino superior pretensiosamente qualificado. Uma Universidade, portanto, com uma matriz fortemente caracterizada pelo lugar, com alma, sem descurar a excelência do saber e do saber-fazer e, sobretudo, que se constitua como farol e referência no mapa das universidades mais prestigiadas.
- Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do Porto.
Em 1996 tive a honra e o prazer de ter sido convidado a desenhar, em coautoria com o meu colega Jorge Afonso, o livro sobre a história da U.Porto, desde 1762 até 1995. O título da obra é “Universidade do Porto: Raízes e Memórias da Instituição”.
O processo de execução dessa obra permitiu-me focar e perceber com detalhe os pormenores do universo da instituição, quer guiado pela escrita do autor, quer através do roteiro fotográfico que, à data, foi feito pelas diversas unidades orgânicas, por forma a ilustrar a narrativa. Dessa viagem privilegiada ficou, para sempre, a perceção e o sentimento de que, enquanto discente e mais tarde como docente, fazia parte de uma realidade de que me orgulhava de pertencer. Humildemente confesso que senti a soberba de fazer parte daquele mundo! Na minha pele de designer, e para dar corpo a essa demonstração de soberba e com alguma dose de utopia, gostaria de desenhar e executar uma diacronia visual, que abraçasse (literalmente) a cidade e onde fosse plasmado em imagens o universo da U.Porto. Estava certo de que todos, a cidade e a comunidade U.Porto, iriam viver e percecionar os 100 anos da sua Universidade com o detalhe que ela merece ser observada e celebrada.
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