22 de Maio de 1947
“Carece a Universidade do trato das Humanidades - ela que se compõe apenas de Faculdades científicas ou técnicas. O próprio Direito lhe falta. Da mutilação injusta nos lamentámos todos que, sem embargo, providenciaremos por outras vias ácerca do preenchimento, embora incompletíssimo, desse vácuo universitário e citadino” (Excerto da intervenção do Prof. Luís de Pina na sessão inaugural do Centro de Estudos Humanísticos. In O Primeiro de Janeiro, 23 de Maio de 1947)
A extinção da 1ª Faculdade de Letras, nos anos 30, deixou na U.Porto um vazio ao nível do ensino das Humanidades na cidade. Em 1947, esse vazio foi parcialmente preenchido com a criação do Centro de Estudos Humanísticos (CEH), um organismo ao qual se reconhece um importante papel enquanto elo de ligação entre as duas Faculdade de Letras do Porto: a escola extinta em 1931 e a “nova” FLUP, inaugurada em 1961.
Criado pelo Instituto para a Alta Cultura e anexado à Universidade do Porto no seguimento dos diversos esforços encetados desde os anos 30 com o objectivo de restaurar os estudos humanísticos na cidade (em 1938, foi fundado o Centro de Estudos Portugueses, pelo qual passaram antigos professores e estudantes de Letras) e reforçados a partir de meados da década de 40 por iniciativa da Universidade (liderada por Amândio Tavares) e do município (presidido por Luís de Pina, professor catedrático da Faculdade de Medicina), o CEH assumiu uma dupla vertente ligada ao ensino e investigação nos domínios da Filosofia, da História, da Literatura, da Arte e da Etnografia. "Mestres e escolares, curiosos que desejem cultivar-se, encontrarão aqui aquela porção de letras que a uns se não ensina e que outros não ensinam nas aulas”, discursou Luís de Pina, na sessão inaugural do Centro, em Maio de 1947, no Salão Nobre do Edifício Histórico da Universidade. Acto que o também director do novo organismo definiu como um" dos momentos de mais nobre e distinta expressão na história da Cultura desta grande e poderosa cidade".
Recuperando o trabalho normalmente ligado a uma Faculdade de Letras, a acção do CEH - cuja direcção reunia diversos professores da 1ª FLUP e outros que seriam docentes na futura faculdade - contemplava, além da regência dos cursos livres nos seus vários campos de actuação, a promoção de conferências, exposições e bolsas para investigação. O resultado traduziu-se na forte adesão da cidade à oferta formativa e na difusão de um volume considerável de produção científica, factos que valeram ao Centro o reconhecimento nacional e além-fronteiras.
Pelo sucesso que conquistou rapidamente junto do meio académico e cultural portuense, o CEH apenas veio reforçar os apelos ao Governo provenientes dos diferentes meios da cidade em prol da criação da Faculdade de Economia e da restauração da Faculdade de Letras. Esse desejo foi cumprido, parcialmente, em 1953, com a inauguração da FEP. A restauração da FLUP chegaria oito anos mais tarde, em 1961.
Após a fundação da FLUP, o Centro de Estudos Humanísticos manteve-se como extensão no apoio às actividades de investigação nas Ciências Humanas e Sociais, até à sua desvinculação da Universidade do Porto.
Foto: Luís de Pina proferindo a oração inaugural do Centro de Estudos Humanísticos (CEH) | O Primeiro de Janeiro
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