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Daniel Bessa: “Temos condições para competir numa ‘liga de honra’ à escala mundial”

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O Olhar de...

- Economista português

- Director-geral da COTEC Portugal - Associação Empresarial para a Inovação

- Ex-Director da EGP - Escola de Gestão do Porto (2000-2008) e Presidente da Direcção da EGP - UPBS (2008-2009)

- Ministro da Economia, Indústria, Comércio e Turismo do XIII Governo Constitucional (1995–1996)

- Professor da Faculdade de Economia da U.Porto (1970–1999); do Instituto Superior de Estudos Empresariais da U.Porto (1988-2000) e da EGP / EGP-UPBS (2000-2009)

- Antigo Estudante da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), com Licenciatura em Economia (1970)

 

- Como é que teve origem e se tem vindo a desenvolver a sua ligação à Universidade do Porto? Que principais momentos guarda dessa experiência?

 

O início da minha ligação à Universidade do Porto ocorreu em Outubro de 1965 – no início do ano lectivo de 1965-1966, quando fui admitido como aluno da Faculdade de Economia.

Tinha feito todo o liceu (hoje, segundo e terceiro ciclos do ensino básico e ensino secundário) no Liceu Alexandre Herculano, no Porto – em Campanhã, na zona ocidental também dita pobre da cidade. Tinha sido um bom aluno e a minha primeira opção seria seguir Direito, mas isso obrigar-me-ia a ir estudar para Coimbra ou para Lisboa, algo que se encontrava acima das possibilidades materiais da família. Economia tinha surgido, dois anos antes, como um second best: não era um Curso de Letras nem de Ciências, permitindo-me fugir aos meus pontos mais fracos como estudante. Não tinha uma ideia muito clara do que se seguiria enquanto profissional (uma vaga ideia de que se trataria de algo relacionado com empresas) mas também, na época, essa não era a preocupação fundamental à entrada de uma Universidade.

A Universidade do Porto era, para mim, a imponência do actual edifício da Reitoria, onde então funcionava a Faculdade de Ciências, com milhares de alunos (incluindo os estudantes de Engenharia e de Economia que aí faziam as disciplinas básicas). Economia funcionava no sótão, com quatro salas de aula, incluindo um único anfiteatro; muitos dos meus colegas eram “trabalhadores estudantes” e não parecia haver grande preocupação em que frequentassem as aulas – até porque não cabiam.

Recordo o grau de exigência e de selectividade: entre mais de 200 alunos admitidos no ano de 1965-1966, apenas uma escassa meia dúzia terá completado o curso nos cinco anos prescritos. Quarenta e cinco anos depois, é impossível esquecer alguns professores: o Dr. Alberto Pedroso (era licenciado em Físico-Químicas, antes de ser licenciado em Economia; sabia muita matemática, constituindo um modelo de rigor analítico); o Prof. Manuel Baganha (um modelo de civismo e de vida cívica; um enorme coração, de que só me dei conta alguns anos mais tarde); o Doutor Hernâni Carqueja (com quem aprendi tudo o que sei de contabilidade, fazendo também de mim o “homem de contas” que procurei ser toda a vida).

Em 1970 licenciei-me e fui admitido como assistente estagiário.

Em 1974-1975 envolvi-me “até ao pescoço” na luta política (e também académica) no interior da Faculdade de Economia, a cujo Conselho Directivo vim a presidir, com menos de trinta anos.

A partir do início dos anos oitenta foi a “normalização”, culminando no doutoramento, em 1986, no actual ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa, único momento da minha vida académica em que a Universidade do Porto não esteve presente (como em quase tudo na vida, há males que vêm por bem).

Em 1988 veio a ligação ao ISEE - Instituto Superior de Estudos Empresariais, de onde saiu, em 2000, a EGP - Escola de Gestão do Porto, a cuja Direcção presidi, entre 2000 e 2009.

 

O que mais recordo, de tudo isto? Para além dos professores acima referidos, as aulas de Economia I e de Politica Monetária e Financeira (na FEP), as aulas de Economia para Gestores e de Conjuntura e Previsão Económica (no ISEE, depois EGP), e os milhares de amigos (em sentido amplo, já se vê) que fiz entre os alunos, ao longo destes quarenta anos.

 

- Qual a importância da U.Porto no seu percurso profissional? De que forma foi de encontro às suas expectativas??

 

A Universidade do Porto faz parte da minha vida. Foi na Universidade do Porto que conheci (em 1965) a minha mulher, com quem casei (em 1970) e que é a mãe da minha filha (nascida em 1971). Profissionalmente, a Universidade do Porto foi a minha única entidade patronal, que me “pagou o sustento”, até 1983 em regime de exclusividade. Depois, sobretudo a partir de 1986, com o doutoramento, a vida seguiu outros rumos, quase de vertigem, sempre com um pé dentro da Universidade do Porto, até Dezembro de 2009, data em que me aposentei.

Devo à Universidade do Porto (tanto quanto à minha mãe, à minha mulher e a mim próprio) tudo o que fui fazendo ao longo da vida. Nunca me faltou, excepto no episódio, triste, do doutoramento.

 

- Como avalia o papel desempenhado pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país) e de que modo ele se poderá projectar para o futuro?

 

Quer se queira quer não, como em tudo na vida, as instituições competem entre si (como as empresas, e as pessoas). São avaliadas do ponto de vista de múltiplas capacidades, e de outras tantas reputações, em múltiplos rankings, formais e informais. Quando entrei na Universidade do Porto esta perdia claramente em reputação para Universidades como a de Coimbra ou a Clássica de Lisboa (não tenho uma noção tão clara sobre como compararíamos com a Universidade Técnica de Lisboa, tanto Económicas como o Instituto Superior Técnico). Era o tempo, ainda, em que, como referia Paulo Valada, quando nos deslocávamos a Lisboa, a família ia despedir-se de nós à estação do comboio, a São Bento ou a Campanhã. Era, e foi ainda durante muitos anos, o tempo em que, no dizer de José Maria Pedroto, quando atravessávamos a ponte de D. Luís, começávamos a perder. Era o tempo em que dificilmente se associava à Universidade do Porto o nome de um membro do Governo de Portugal.

Hoje, a Universidade do Porto é a maior Universidade do País (o que não sendo decisivo, funciona como um primeiro indicador, de múltiplos pontos de vista). Tem Escolas de referência, à escala global (Arquitectura, para citar apenas a que talvez se revista de maior notoriedade). Disputa múltiplos rankings em que se procura avaliar a excelência da vida Universitária, e tem uma estratégia e um plano de acção para continuar a progredir nestes rankings. Gostaria de prestar a minha homenagem, deste ponto de vista, ao ex-Reitor Professor Alberto Amaral, que protagonizou um primeiro grande momento de viragem e a cuja equipa tive o gosto e a honra de pertencer, entre Dezembro de 1990 e Outubro de 1995, como pró-Reitor para a orientação da gestão financeira da Universidade.

 

- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional? Como prevê o papel de uma Universidade do Porto daqui a 100 anos?

 

O Reitor, Professor Marques dos Santos, e o Conselho Geral, presidido pelo Doutor Luís Portela, têm uma visão clara da trajectória a percorrer pela Universidade, em que não haverá vitória, nem no contexto nacional, nem sequer no contexto regional e local, se a Universidade do Porto não for capaz de se afirmar no contexto internacional. Partimos muito atrás para podermos afirmar-nos numa “primeira liga mundial” (Cambridge, Oxford, Princeton, Stanford e outras com o mesmo grau de reputação) mas temos todas as condições para competir numa “liga de honra à escala mundial”, aqui e ali com a possibilidade de sucessos mais “atrevidos”.

Trata-se de um longo caminho a percorrer para que, a meu ver, dispomos da visão e da vontade, das competências e, não sei se com o mesmo grau de acutilância, da estratégia e sobretudo da organização. Não consigo antever a Universidade do Porto daqui a cem anos (prognósticos, só no fim do jogo, como dizia um dos meus capitães) mas gostaria muito de a ver como a primeira Universidade portuguesa a ser capaz de seleccionar como Reitor uma figura de primeira linha da academia mundial – dando um contributo decisivo para vencer o que são alguns dos nossos maiores males como povo: o medo, o proteccionismo e o corporativismo (só isso permitiu, de resto, que eu próprio, é verdade que já lá vão mais de quarenta anos, me tivesse tornado docente da Universidade do Porto poucos dias depois de me ter licenciado na ... Universidade do Porto).

 

- Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do Porto (formato livre)

 

Chegados a um momento como este, é difícil deixar de projectar sobre a Universidade do Porto, que tanto amamos, aquilo que somos – no melhor e no pior, na nossa idiossincrasia. Quero o melhor para a Universidade do Porto (tudo de bom, como dizem os brasileiros, mestres da aspiração – o que não traz nenhum mal ao Mundo). Entendo que só chegaremos lá com um percurso de esforço, e de sofrimento, em que, no dia da celebração de cada vitória, acabamos sempre por começar a trabalhar para a meta seguinte, mais ambiciosa. É preciso ter, em permanência, “a coragem de lutar contra a ternura”, como cantava José Carlos Ary dos Santos, pela voz de Fernando Tordo, no que ficará para sempre como um dos versos da minha vida.

 
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