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Vítor Oliveira Jorge: "Há que tornar a Universidade um pólo de irradiação de ideias"

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O Olhar de...

- Arqueólogo e poeta português

- Professor Catedrático  da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (desde 1971)

- Antigo Estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FAUP) com Doutoramento em Pré-história e Arqueologia (1982)

 

 - Como é que teve origem e se tem vindo a desenvolver a sua ligação à Universidade do Porto? Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto professor / investigador da U.Porto?


Em 1971, vivia eu em Lisboa e estava aí a concluir o curso de História, fui convidado para vir para a Faculdade de Letras do Porto ensinar arqueologia pré-histórica, área a que me dediquei e sobre a qual apresentei a minha tese de licenciatura em 1972. Recebi esse convite com grande júbilo.
Porém, defendida a tese em Lisboa, e por vontade do professor da FLUL de quem dependia, acabei por começar a minha carreira na Universidade de Luanda, Cursos de Letras (no Lubango, antiga Sá da Bandeira), onde estive até inícios de Julho de 1974. Deixei de ser assistente dessa universidade e transitei sem interregno para a do Porto, e concretamente para a Faculdade de Letras (que muito bem me acolheu), em Setembro de 1974. Comecei a dar aulas, integrado no curso de História, ainda no edifício das actuais Biomédicas, junto ao Hospital de Santo António.
E desde então tenho sempre vivido no Porto, dedicado à investigação e ensino da arqueologia em exclusividade, na U.POrto. Paralelamente, fui publicando obra poética.
Como momentos mais relevantes para mim, destacaria naturalmente em primeiro lugar o meu doutoramento, em Pré-história e Arqueologia, em Outubro de 1982, culminar de um grande esforço no sentido de me “ancorar” a um território que antes não conhecia, e que do ponto de vista da arqueologia pré-histórica estava então quase “virgem”. Nessa tarefa ajudou-me a minha mulher e colega da mesma Faculdade e especialista da mesma área, Susana Oliveira Jorge. Pode dizer-se que essa fase gira em torno da Serra da Aboboreira, uma zona interessantíssima onde se encontram os concelhos de Baião, Amarante e Marco de Canaveses, e na qual vivi experiências inolvidáveis (até 1990 inclusive). Devo também bastante aos meus amigos e orientadores (infelizmente ambos falecidos), Prof. Carlos Alberto Ferreira de Almeida, da FLUP, e Abbé Jean Roche, do CNRS (Paris).
Em segundo lugar, foi para mim um momento muito significativo quando, no verão de 1989, realizei as provas de agregação na FLUP e ainda quando, em Maio de 1990, tomei posse na Reitoria como professor catedrático da U.Porto, de nomeação definitiva, como então se chamava.
A vinda para o Porto significou muito para mim, para além do enquadramento profissional, pois antes não conhecia o Norte do país. Para além da área já mencionada, as serras do Minho, os planaltos de Trás-os-Montes, a zona da várzea de Vila-Real/Vila Pouca de Aguiar e, muito principalmente, o vale do Douro, e, neste, a região de Foz Côa, foram para mim autênticas revelações, e todo o meu trabalho e reflexão (científica e poética) estão muito ligados a essas regiões. Em todas estas ocasiões fui, naturalmente, fazendo amigos, os primeiros dos quais os meus próprios alunos.

- Qual a importância da U.Porto no seu percurso profissional e que modo tem ido de encontro às suas expectativas?

 A Universidade do Porto acolheu-me com total abertura, e aqui sempre me senti num ambiente predisposto ao desenvolvimento de pesquisas, em colaboração com estudantes, apesar das condições precárias decorrentes da débil situação de meios de que sempre sofreu a arqueologia portuguesa em geral. Pode dizer-se que tanto eu, como minha mulher, e outros colegas, fizemos e continuamos a fazer um investimento pessoal muito grande para realizar trabalho útil, mas vimos sempre esse esforço compreendido e acarinhado. Como gosto bastante de dar aulas, aos vários níveis, e tanto no meu âmbito disciplinar como em contextos mais interdisciplinares (formação contínua, etc.), tenho aqui vivido momentos de muita satisfação e realização intelectual e afectiva ao longo dos anos. A criação do Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto, a dinamização da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, e o nascimento da Associação para o Desenvolvimento da Cooperação em Arqueologia Peninsular, com as suas respectivas publicações, mesas-redondas, e congressos, têm sido para mim oportunidades de incrementar relações e de dar oportunidades aos mais novos, pois sempre me pautei pela ideia de que sozinho não conseguiria nunca realizar nada de certa dimensão nem de perdurável. Em tudo isso a UP sempre esteve em background a apoiar-me, uma vez foi em ligação mais ou menos directa com ela que desenvolvi, ou colaborei, nessas iniciativas. Apesar do carácter provisório das antigas instalações da FLUP no Campo Alegre, elas foram cenário de muitos momentos exaltantes, como por exemplo a criação do primeiro mestrado de Arqueologia em Portugal (1989/90). Recordo esses tempos com muita saudade, até porque vivo aqui perto.
Quando, finalmente, e na qualidade de presidente do Conselho Directivo, pude presidir à inauguração do novo e definitivo edifício da FLUP, em Dezembro de 1995, isso foi também o momento de sentir mais um “dever cumprido”, só possível graças a um trabalho de muitas pessoas ao longo de anos. Não sendo ideal, é evidente que o novo edifício da FLUP representou um salto qualitativo muito grande em relação às condições que tínhamos antes. Finalmente, em 1997 foi criado o Departamento de Ciências e Técnicas do Património, que tem realizado um trabalho imenso, e, no seu seio, a primeira licenciatura de arqueologia em Portugal, no ano lectivo de 1999/2000.

- Como avalia o papel desempenhado pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país) e de que modo ele se poderá projectar para o futuro?

Creio que a Universidade, como é do conhecimento geral, se tem vindo a consolidar e a projectar em todos os planos, possuindo inúmeros pólos de excelência, recebendo estudantes, investigadores e docentes de todo o mundo, e produzindo obra notável que contribui para o prestígio da cidade, da região e do país.
Para se projectar para o futuro, há que desenvolver em todos os domínios um exigente espírito de equipa e de actuação interdisciplinar, e uma muito densa rede de relações com o meio extra-universitário, de forma a incrementar sinergias e a tornar a Universidade do Porto, cada vez mais, um pólo de criatividade e de irradiação de ideias e soluções. O velho professor que, mais ou menos isolado, procurava fazer o seu “cursus honorum”, e  o velho aluno, que buscava uma formação estável para um emprego mais ou menos garantido, são realidades históricas, pertencem ao passado. Ultrapassar os resquícios dessas mentalidades, tornadas arcaicas, é o grande desafio a enfrentar, nunca desvalorizando qualquer campo de saber em relação a outro. Estamos numa “sociedade líquida”, onde o que tem valor está em fluxo e em comunicação constante; e estas, para não caírem numa superficialidade, exigirão cada vez mais de cada equipa, no sentido de uma dedicação séria, muito trabalho, e uma grande flexibilidade relacional e comunicativa. Ou seja, os valores não mudaram substancialmente, só que se tornaram mais exigentes e não se compadecem com a rotina: tudo é urgente, e todos os contributos, desde que em relação entre si, são potenciadores de novidade e portanto de mais-valias.

- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional? Como prevê o papel de uma Universidade do Porto daqui a 100 anos?

 Começo pelo fim...creio que na aceleração actual das coisas, 100 anos é um abismo imenso, impossível de prever. Ou seja, a realidade actual, extremamente veloz na sua mudança, tornou impossível planear o futuro a tão longo prazo. Por isso a minha previsão é mais um desejo, o desejo e o voto que estão implícitos nas minhas outras respostas. E esse voto é óbvio: a de que a Universidade do Porto seja uma das universidades de referência, a nível de topo, procurada por todo o mundo e em relação com todo o mundo.
Nesse sentido, e a par dos cursos básicos dos 3 ciclos, e da prossecução e incremento da pesquisa, a internacionalização é a palavra-chave. Provavelmente a Universidade do Porto, para além de “falar português” e de defender a nossa língua em toda a parte, deverá e poderá “falar outras línguas”, ou seja, entrar no mercado internacional para além do óbvio mundo da lusofonia. Os homens e as mulheres do futuro serão poliglotas, cosmopolitas, capazes de dar e de receber cursos e de fazer/ensinar pesquisas em várias línguas, de modo a competirem directamente com qualquer universidade do mundo. Os portugueses, pioneiros da expansão europeia, desta cultura multissecular mas também muito diversificada que nos orgulha, serão capazes de novo desse esforço e dessa grande realização. Fazer da aparente fraqueza força, fazer da periferia centro, fazer da nossa especificidade algo de genericamente interessante e atractivo, fazer das crises oportunidades, conjugar ousadia e realismo: eis o que em termos gerais eu posso desejar e prever. Uma convicção profunda, própria de uma Universidade ainda jovem, é, estou crente, um motor invencível. Vontade indomável de vencer, e de vencer com os outros. A partir dessa plataforma generosa e aberta, tudo é possível.

- Mensagem alusiva aos 100 anos da Universidade do Porto (formato livre)
 
100 anos é uma bonita idade, mas para uma instituição como a Universidade do Porto é ainda uma idade jovem. Há pois que aproveitar essa juventude, essa legítima vontade de afirmação. Desejo e auguro pois que a Universidade do Porto, nas suas múltiplas valências, continue a desenvolver-se ao longo dos anos e das décadas, sempre num espírito de abertura à universalidade e ao cosmopolitismo que lhe é próprio, e incrementando a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade em todos os planos. E nunca se esquecendo de que, se todos os campos do saber são importantes, e mais ainda a sua interacção, aqueles que estudam o próprio sujeito do conhecimento na sua especificidade (as ciências sociais e humanas) são evidentemente imprescindíveis. Pragmatismo e utilidade a um nível mais imediato, impõem-se. Mas a criatividade e a inovação verdadeiramente fracturantes e perduráveis só se conseguem com o investimento no médio e longo prazo, e dirigidas à totalidade nacional e internacional. Estou certo de que será esse, apesar de todas as dificuldades, o caminho da UP. Todos e cada um serão responsáveis pela sua concretização, estudantes, funcionários, professores e investigadores... Incluindo os que estarão mais vocacionados para dirigir e para comunicar esse ambicioso desiderato.

 
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