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Luís Oliveira Ramos: “Urge implementar a investigação pura e estimular o relacionamento com outros povos”

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O Olhar de...

- Historiador e professor universitário português

- Reitor da Universidade do Porto entre 1982 e 1985

- Presidente de Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) entre 1983 e 1985

- Professor Catedrático Aposentado do Departamento da História na Faculdade de Letras da U.Porto, onde leccionou entre 1963 e 2004

- Antigo Estudante da FLUP, com Doutoramento em História Moderna e Contemporânea (1972)

- Doutor Honoris Causa pela Universidade de Bordéus III – Michel de Montaigne. Condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública e a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

 

- Como é que teve origem e se desenvolveu a sua ligação à Universidade do Porto?

 

Em 1963, era assistente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde trabalhava com os professores Virgínia Rau, Vitorino Nemésio e Manuel Heleno, quando fui convidado para ensinar na refundada Faculdade de Letras do Porto (1961), pelo meu antigo professor em Lisboa, Prof. Doutor José António Ferreira de Almeida. Acumulei, na nova Escola a regência e as práticas de cadeiras com investigação, sem dispensa de serviço docente. Com o tempo, consegui fixar-me em matérias que, desde a dissertação de licenciatura, na Universidade de Lisboa, que fiz com distinção, eu vinha aprofundado. Professei, em especial, História de Portugal Moderno e Contemporâneo e História da Expansão Portuguesa e, mais tarde, depois da Revolução de 1974, História Contemporânea Geral, onde tratei de temas originais, fruto de pesquisa e usei bibliografias que vieram a impor-se, depois das mudanças de Abril, daquele ano. Quando a Faculdade era um núcleo restrito de mestres, estudantes e funcionários, mantive assíduos contactos com toda a gente, e ainda com pessoas da sociedade civil. Logo em 1975, participei num Colóquio, de iniciativa estudantil, sobre “A vida escolar numa Faculdade de Letras”, publicada na revista Letras.

 

Apesar de sobrecarregado de serviço, não por acaso, preparei, editei e conclui a minha dissertação de doutoramento sempre a trabalhar. Do mesmo modo, prestei provas públicas para Professor Extraordinário, graças ao fruto da minha investigação e alcancei o posto de Catedrático conforme as disposições legais. Já doutorado, não quis abandonar a Universidade do Porto e uma carreira regular, a fim de integrar a Comissão Instaladora da Universidade do Minho e os benefícios de progressão que daí poderiam advir.

 

Data relevante da minha vida académica surgiu quando tive a possibilidade de reger cadeiras, dirigir seminários e orientar dissertações, no Porto e alhures, em áreas há muito objecto da minha curiosidade, indagações e especialização, i.e., de inovar e ajudar a inovar através do ensino, na procura de um saber em devir. Boas experiências surgiram quando da possibilidade de exercer o magistério no período de crescimento da Universidade dos Açores e no labor desenvolvido passageiramente noutras instituições com alunos de tipo diverso.

 

Na Faculdade de Letras do Porto, percorri, sem pressas, mas também sem delongas, como exigia uma escola nova, actividade docente, de investigador, de cidadão convivente, dado à cultura, num ambiente citadino, onde o trabalho é apreciado, e sem os sufocos que em tempo próprio marcaram a existência de outras instituições congéneres. Por isso, antes de chegar à Reitoria, fui eleito director do novo Centro de Estudos Norte Portugal - Aquitânia (1979-2001), que unia as Universidades do Porto e de Bordéus III, em áreas pluridisciplinares de ciências humanas e sociais, através do estudo comparativo das duas regiões. Da direcção faziam ainda parte o Presidente de Bourdéus III, Professor Joseph Perez, eminente historiador ibérico, que me escrutinou para aquele cargo e, bem assim, outros colegas, do Porto, Coimbra e Bordéus, entre os quais distingo o geógrafo historiador Doutor François Guichard, especialista do Porto e de Portugal, à qual a nossa região e a ciência muito devem. A sua actividade deu origem a grupos de trabalho, conferências, publicações, colóquios, publicados, alguns deles, pela Universidade do Porto, pelo CNRS francês e pela Universidade de Bordéus III.

 

No âmbito das relações internacionais, o reitorado deu-me assento na CRE, a actual Associação das Universidades Europeias, onde representei Portugal entre 1982 e 1989. Aí travei laços de ciência e amizade à escala da Europa e participei nos esforços de abertura do Leste da Europa à Europa Ocidental. Por proposta espanhola, representei as Universidades Ibéricas no Bureau da CRE. Aí tratei da génese do estudo, já realizado em quatro volumes, Uma História da Universidade na Europa. Esta, por sua vez, informou a História da Universidade em Portugal, idealizada pelo Prof. Ferrer Correia, já com 4 tomos e 2 volumes, onde trabalhei na coordenação com aquele Professor e outros colegas. Participei também na extraordinária Conferência de Viena (1984), organizada pela CRE e pela UNESCO, em ordem a introduzir a liberdade de magistério na Europa Oriental, iniciativa que depois prosseguiu em Varsóvia, e cujos objectivos se concretizaram na sequência da Queda do Muro de Berlim. Das relações estabelecidas entre europeus resultou a eleição para a Comissão Internacional Independente de História da Universidade. Nela fiquei a representar Portugal até ao limite de idade. Experiência única resultou do tempo em que estive no Conselho da Europa (CC-PU) nomeadamente em pesquisas sobre matérias transfronteiriças, assim como, mais tarde na OCDE (CERI), em estudos sobre a inovação educativa e também o ambiente na escola, numa altura em que Portugal desejava entrar, como aconteceu, na Comunidade Económica Europeia, em anos da década de oitenta.

 

- Que principais momentos guarda da sua experiência enquanto professor e reitor?

 

Para não ir mais longe, como Reitor, eu destaco a proposta e as diligências depois coroadas de êxito, relativas à criação de uma Associação das Universidades de Língua Portuguesa, a fundação da Associação dos Institutos e Universidades da Região Norte (AIURN), em conjugação com outras entidades regionais, a compra pela Universidade, graças ao Governo e ainda em 1982, de um Grande Computador, com potência regional, na altura cobiçado por outras instituições, dado o seu carácter inovador e alcance científico em Portugal, apesar das reservas de alguns influentes universitários. Importantíssimo revelou-se o inventário das necessidades de instalações renovadas para todas as faculdades e, bem assim, a instalação e funcionamento de um conselho de investigação, com verbas e autonomia própria, que funcionou bem, ao contrário do que sucedeu noutras Universidades. Não esqueço que consegui pôr a funcionar e obtive apoio ministerial para a construção dos edifícios da novel Faculdade de Arquitectura, assim como para introdução dos cursos de Sociologia e de Ciências Documentais. Como Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), que me tocou assumir entre 1983-1985, defendi em particular a autonomia universitária e participei pela Universidade do Porto, em importantes decisões europeias que marcaram a História de então e nos tempos futuros, com o apoio dos meus colegas de todas as universidades, e cujo trabalho foi por eles explicitamente testemunhado quando deixei o cargo. Nessa qualidade, representei o Governo Português nas cerimónias do cinquentenário da Universidade de S. Paulo, no Brasil). Neste tempo, honrou-me o facto de pertencer ao pequeno núcleo de professores investigadores portugueses que a Universidade de Bordéus distinguiu com o grau de Doutor Honoris Causa.

 

Não esqueço que antes e depois da passagem pela Reitoria, facilitou a actividade que realizei a favor das Universidades a presidência do Conselho Científico de Ciências Humanas do Instituto Nacional de Investigação Científica (INIC), isto é, a presidência do grupo de professores responsáveis pela dinamização da investigação nos diversos domínios das Faculdades de Letras e na edição de revistas e produção livresca original. Em paralelo, no Centro de História da Universidade do Porto, dirigi a Revista de História. Profícua, considero a acção desenvolvida na Comissão Nacional dos Descobrimentos, desde 1996 até 2002, onde presidi, nos últimos anos o seu Conselho Científico e a Revista Mare Liberum. Conforme directiva da Comissão, logo em 1987 em colaboração com a Universidade do Porto e cientistas de outras Universidades, encabecei, como presidente, de facto, o Congresso Internacional Bartolomeu Dias e a sua Época e empenhei-me na rápida edição das suculentas actas em cinco grossos volumes. Através do INIC, participei na Cimeira de Ciências Humanas da Fundação Europeia de Ciência, em Munique (1987).

 

Numerosas publicações entre livros e artigos testemunham interna e externamente, quer em obras colectivas, quer individualmente, uma parte substancial da minha labuta científica. Cito os volumes O Cardeal Saraiva (1971); Da Ilustração ao Liberalismo (1979); O Porto e as Origens do Liberalismo; Sob o Signo das Luzes (1988); Le Portugal et la Révolution Française, P. U. de Bordeaux, (1989); Diário das Visitas Pastorais no Pará de D. Frei Caetano Brandão – recolha de textos e introdução (1991); História do Porto (dir. e colab.), 3º edição, 2001); Notícias Curiosas e Necessárias das Cousas do Brasil, do Padre Simão de Vasconcelos (recolha de textos e introdução), 2001; D. Pedro, Imperador e Rei, 2ª edição, 2007,” Soldados, Fidalgos e Estudantes  Voltairianos, 2002; D. Maria I, 2ª edição 2010.

 

- Como avalia o papel desempenhado – no passado e no presente - pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país)?

 

Nestes 100 anos, a Universidade do Porto preparou quadros, no âmbito das suas competências, sobretudo para a cidade, para as regiões do Norte e para o país, cresceu sucessivamente, não apenas a melhoria do seu ensino, mas também a valia da investigação, nalguns casos com forte incidência nacional e internacional, como vinha acontecendo com as escolas que a precederam. As relações, no plano nacional e com o estrangeiro, acentuaram-se passo a passo, pois começaram por existir no plano pessoal entre professores ou escolas. Apesar das conquistas desde há trinta anos e mais recentemente, é imperial sublinhar que a par da inovação, da crítica e da inserção social, urge implementar a investigação pura e estimular o relacionamento com outros povos, sobretudo perceber que há outras humanidades além daquela que experimentamos. Um primeiro encontro, a que presidi, entre os Reitores do CRUP e Reitores das Universidades chinesas, se derivou de interesses imediatos no plano da cooperação científica, tal como a reunião posterior com as chefias das Universidades do Japão, significou ainda um passo exploratório importante no caminho apontado.

 

- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional? Que Universidade gostava que se celebrasse dentro de 100 anos?

 

Daqui a 100 anos, seria com certeza útil celebrar uma instituição onde os laços entre os seus componentes se desenvolvam num clima alheio ao chauvinismo, à clausura, à guerra e postulem o espírito criativo, o livre - exame, a compreensão do outro e a paz, conforme os valores da pessoa humana, situada nas sociedades de então. Eis o que, em súmula, pensa o único Reitor de Ciências Humanas e Sociais que regeu a Universidade do Porto e em três ocasiões distintas presidiu ao Conselho Científico da Faculdade de Letras, onde fez carreira.

 
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