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Manuel Carvalho: "Se o Porto é hoje mais cosmopolita, deve-lo em boa parte à U.Porto"

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O Olhar de...

- Jornalista português

- Director Adjunto do PÚBLICO

- Estudante da Licenciatura em História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP)

 

-Que principais memórias guarda da sua experiência enquanto estudante da U.Porto?

 

Guardo algumas memórias do passado, mas vivo especialmente as experiências do presente. Porquê? Porque sou aluno da U.Porto, com maior ou menos regularidade, há uns 15 anos a esta parte. Um cábula militante, portanto, mas com matizes - não a frequentei na primeira juventude, mas, desde que me inscrevi em Direito em meados dos anos 90 do século passado, fiquei cliente. Em Direito andei dois anos até decidir que já não tinha idade para estudar o que não me dava prazer pessoal (as boas cadeiras, como Ciência Política ou Direito Constitucional estavam já feitas). Por isso fui para História.

Mas a minha primeira experiência aí foi deprimente: encontrei uma faculdade ronceira, entorpecida e sem nada a oferecer-me além do que podia encontrar nos livros e, principalmente, nos apontamentos dos colegas.

Esta desilusão, aliada a razões de natureza pessoal, fizeram-me afastar do curso por quase uma década. Regressei há três anos e se é errado dizer que a faculdade aboliu o conformismo e deixou por completo de ser um lugar burocrático e cinzento, a verdade é que ali encontrei uma boa dúzia de professores com os quais vale a pena aprender e estudar. Hoje, embora não vá lá as vezes que gostaria (e precisava...), gosto do curso, dos colegas e do ambiente geral que lá se vive.    

 

- Há algum episódio que se destaque da experiência que viveu/vive na Universidade?

 

Dois. Quando pedi a minha transferência de Direito para História as funcionárias do secretariado olharam para mim como um louco extravagante e quiseram saber aí umas cinco vezes se eu tinha a certeza que era aquilo que queria fazer; um outro, mais recente, em que pedi a discussão sobre um mísero e injusto 11 a uma cadeira, sem que nenhuma das instâncias às quais recorri se tivesse sequer preocupado em dizer-me “não”. Neste particular, o Curso de História (e todos os demais, suponho...) continua a ser lugar sem margem para a discussão aberta. Ora, o que eu pretendia com a minha proposta era apenas saber se a visão de um determinado período histórico e a leitura crítica de um determinado livro estavam fechadas ao arbítrio do regente da cadeira, ou se havia na faculdade possibilidade alguma de se divergir e discutir abertamente desde que em causa estivesse uma argumentação cientificamente validada por autores de mérito indiscutível. Um aborrecimento a que ninguém quis sequer responder.

 

Qual a importância da U.Porto no seu percurso profissional?

 

Como jornalista, a U.Porto não teve grande influência no meu percurso profissional. Mas ao permitir-me prolongar o meu contacto directo com o saber teve, e tem, um enorme impacte na minha vida pessoal.
 

- Como avalia o papel desempenhado, no passado e no presente, pela Universidade no seio da comunidade (cidade, região, país)?

 

A pergunta pressupõe um esclarecimento prévio, que é o de saber para que serve uma universidade. Se a colocarmos numa perspectiva conservadora, a que circunscreve a função do ensino superior à formação e reprodução de saberes, podemos dizer que sim, que o papel da U.Porto está a ser cumprido; mas se formos mais exigentes e se quisermos saber se, além do fabrico de licenciados ou mestres, a universidade se assume como um dos motores, ou instigadores, dos novos rumos da comunidade, as respostas são mais difíceis de obter. Ainda assim, é neste contexto que devemos encarar a U.Porto.

Há dez ou 15 anos a universidade pública no Porto vivia de si e para si, mas desde então foi-se consolidando um novo espírito de abertura que a reposicionou na comunidade e lhe conferiu o papel de protagonista do seu desenvolvimento. Essa mudança de atitude deve-se em primeiro lugar a institutos ou personalidades que, pela excelência do seu desempenho, se tornaram notados e, acto contínuo, foram convocados para assumir novos desempenhos no quadro das dinâmicas sociais da cidade. O brilho do Ipatimup ou do IBMC, e dos seus líderes, teve, por isso, um primeiro efeito de catapulta na exteriorização de uma imagem e de um desempenho que até aí se circunscrevia às paredes da academia.

Quando a equipa do actual reitor assumiu funções, tinha-se tornado um lugar-comum pedir mais e melhor intervenção da U.Porto na cidade e na região. A um desejo crescente de abertura que se insinuava em vários departamentos, correspondia agora uma liderança que acolhia como positiva a pressão externa para que a universidade saísse do seu casulo. Em dez anos, a excelência que existia em várias faculdades tornou-se visível; institutos como o INESC assumiram as suas responsabilidades para com o desenvolvimento económico; a UPTEC promoveu e promove ligações importantíssimas entre a academia e o mundo das empresas. Há 15 anos, a U.Porto não tinha lugar na comunicação social nacional; hoje é talvez a unidade de ensino superior mais referenciada. Se hoje o Porto e a região são, apesar da crise, mais cosmopolitas e se podem, ao menos, acreditar num futuro mais ancorado em mecanismos de desenvolvimento sustentável, essas condições devem-se em boa parte à U.Porto.

 

- Que caminho deverá ser percorrido para afirmar cada vez mais a Universidade no contexto regional, nacional e internacional?

 

Apesar de todas as melhorias, acreditar que a academia portuense é um mundo perfeito é um erro e um mito. Muitas faculdades continuam fechadas sobre si próprias e encaram a cidade e o mundo como um perigo; muitos docentes continuam a execrar contactos com o exterior; a mediocridade ainda domina departamentos e faz com que os mais jovens ou mais abertos sejam convidados ao conformismo ou à inércia; muitos projectos só se fazem porque há bolseiros e outros simulacros de poder em jogo. Na U.Porto ainda não há dinamismo suficiente para lhe podermos atribuir expectativas de mudanças radicais.

A maior parte dos males é, mais do que portuense, de natureza institucional. Ou nacional. Olhando ao que se passou numa década, é provável que na próxima tudo isto se dilua e que o dinamismo que hoje se pressente em tantas áreas da U.Porto acabe por dar forma a uma nova cultura. No espaço de uma década deram-se passos enormes, e nada nos deve levar a crer que o efeito de bola de neve se venha a perder nos próximos anos.

 

Foto: Paulo Pimenta

 
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